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Como Bolsonaro sequestrou o 7 de Setembro
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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

Como Bolsonaro sequestrou o 7 de Setembro

Mais um 7 de Setembro sob tensão. A data em que se comemoram os 200 anos da Independência do Brasil foi sequestrada pelos rompantes antidemocráticos do presidente Bolsonaro
Tipo Notícia
Um homem participa de uma manifestação em apoio ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro em São Paulo, Brasil, em 7 de setembro de 2021, no Dia da Independência do Brasil (Foto: MIGUEL SCHINCARIOL / AFP)
Foto: MIGUEL SCHINCARIOL / AFP Um homem participa de uma manifestação em apoio ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro em São Paulo, Brasil, em 7 de setembro de 2021, no Dia da Independência do Brasil

A sensação é a de que uma máquina do tempo nos jogou de volta aos dias que antecederam o 7 de Setembro de 2021, quando Bolsonaro jogou todas as fichas contra o Supremo Tribunal Federal e ofendeu livremente o ministro Alexandre de Moraes, chamando-o de “canalha”. Há quase um ano o presidente gritou às milhares de pessoas que o ouviam na Esplanada dos Ministérios e na Avenida Paulista sobre um provável futuro na presidência do Brasil: “Só saio preso, morto ou com vitória. Quero dizer aos canalhas que eu nunca serei preso”.

Dias depois, Bolsonaro chamou o ex-presidente Michel Temer ao Planalto. O resultado da visita foi a carta assinada por Bolsonaro com uma enjambrada tentativa de apaziguamento dos ânimos na qual falava em “calor da hora” etc. De lá para cá, as horas mantiveram a temperatura alta e agora mesmo, às vésperas de um novo 7 de Setembro, estão fervendo.

Este ano são aguardadas novidades para o 7 do mês que vem, mas os sentimentos que rondam a data em que se comemoram os 200 anos da independência do Brasil não são os melhores. É tão absurdo como o presidente Bolsonaro conseguiu sequestrar os bens simbólicos nacionais e dar a eles um contexto que causa medo, repulsa, indignação. A bandeira nacional foi expropriada da Nação em nome de um fanatismo retrógrado patriótico. Datas como o 7 de Setembro estão envoltas em expectativas medonhas. Até palavras como liberdade e democracia – que de fato não têm nada de objetivas como são quase todas elas – embarcaram no Brasil em sentidos sinistros: liberdade para se ser antidemocrático e democracia como um ambiente de um só viés arquitetado na cabeça do presidente.

Ontem, a colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, escreveu, a partir de fontes próximas ao presidente, que Bolsonaro está “inquieto” e repetindo a máxima de que não “será preso”. Para alguns interlocutores, ele parece “transtornado” diante da possibilidade de perder as eleições e ter de responder na Justiça comum todas as suas intempéries e irresponsabilidades enquanto mandatário. Paulo Guedes chegou a afirmar semana passada que o presidente está operando coma “psicologia do desespero”. O contexto é o mesmo.

O presidente da República, Jair Bolsonaro(Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil O presidente da República, Jair Bolsonaro

Nos resta então o ar tenso sobre o qual paira Bolsonaro e mais um 7 de setembro. Desta vez, ele quis ir ao Rio de Janeiro, mudou tudo na organização da festa cívica, convidou líderes de outros países para a comemoração. O improviso nem incomoda tanto, o que o indigna mesmo é a sensação de instabilidade na qual Bolsonaro jogou o País. Esse temor de que a democracia brasileira está por um fio, essa certeza da pouca lucidez do gestor máximo do Brasil, esse pavor que ronda as opções do seu próprio futuro: “Só saio preso, morto ou com vitória.(...) nunca serei preso”.

Bolsonaro joga com as emoções dos seus apoiadores de uma forma cruel, desnecessária, pode-se dizer, até desonesta. Apela para a piedade máxima dos incautos, passando-se de vítima do próprio país que o elegeu democraticamente. Bolsonaro acovarda-se diante das consequências das suas ações e, por isso mesmo, ameaça o processo que o levou ao poder. Bolsonaro paira sobre o País, e isso não é nada bom.

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