Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
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Para começo de conversa, penso ser essencial que Fortaleza tenha outra forma de lidar com os resíduos sólidos e considero razoável pagar uma taxa por isso. Mas, esperem. Sou radicalmente contra o modelo de como a nova tarifa está sendo imposta à população de Fortaleza.
Digo imposta, porque não houve interesse, por parte da Prefeitura de Fortaleza, em abrir uma discussão que envolvesse a cidade para explicar, sensibilizar e motivar os fortalezenses para mais uma cobrança de tarifa, que não se restringe ao pagamento de um boleto, mas que muda a conduta de cada morador desta cidade frente à produção dos seus resíduos.
Desde dezembro do ano passado foi aprovado pela Câmara Municipal o Projeto de Manejo dos Resíduos Sólidos, que abria caminho para a cobrança da taxa do lixo. A expectativa era que o prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), enviasse, até junho deste ano, o projeto com a proposta da cobrança. Mas, o documento só chegou neste dezembro ao legislativo municipal, foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça por 9 a 8 votos, na segunda-feira última, 12, o que demonstra que sequer na Câmara há espaço de maturação do projeto.
Quando falo que seria necessário uma ampla discussão e compreensão dessa matéria é porque é fundamental que a maioria dos moradores de Fortaleza se envolva no processo de reeducação de como tratar seus próprios resíduos, a fim de que haja qualquer alteração nesse segmento. A começar pelo ambiente doméstico. Ter dois cestos de lixo, aprender a descartar os resíduos de forma correta, separar o lixo orgânico do reciclável não são tarefas tão simples como muita gente pensa. Demanda tempo, é necessário sensibilizar todas as pessoas de uma casa. Exige aprendizado e continuidade. É uma mudança de cultura que, se requer esforço em uma família, imagina em uma cidade inteira.
Por isso mesmo, esse projeto jamais poderia chegar assim, de forma apressada, à Câmara Municipal, para ser votado entre o amigo secreto e o réveillon. A Prefeitura de Fortaleza deveria ter planejado uma estratégia de comunicação que envolvesse toda a sociedade.
Poderia ter posto sensibilizadores nos terminais de ônibus, por exemplo, ter usado transporte público, equipamentos municipais, escolas, associações de moradores e de classe para mostrar o impacto do projeto que propõe ampliar as despesas dos fortalezenses e mudar de forma considerável o jeito como “rebolamos as coisas no mato”.
Estamos falando de um projeto que remodela Fortaleza numa área que, por sinal, está bem atrasada, e é bom nos lembrarmos de que se trata de uma cidade desigual em renda, ocupação dos espaços e em níveis educacionais. A Prefeitura de Fortaleza erra muito quando não leva em conta tantas discrepâncias e impõe um projeto tão mal comunicado e sem nenhuma discussão social mais ampla. A impressão que dá é que o objetivo do poder público se limita apenas a cobrar mais uma tarifa.
Não é à toa que a população encare o projeto com má vontade, não entenda a necessidade de uma tramitação feita às pressas num final de ano. E, o que é pior, não disponha sequer de condições para avaliar as consequências da cobrança que daqui a pouco chega às nossas casas.
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