
Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
.
Escrevi sobre o ataque às escolas há duas semanas e mesmo convicta de que estamos diante de algo grave socialmente, não imaginei que em tão pouco tempo teria de lamentar, entristecer e ficar perplexa diante de mais um caso.
Ontem, terça-feira, em Fortaleza, um rapaz de 17 anos foi apreendido por divulgar, pelas redes sociais, ameaças contra as escolas. Segundo O POVO, vários perfis estão sendo monitorados pela inteligência da Polícia cearense. O ministro da Justiça Flávio Dino está endurecendo com as plataformas, exigindo a desativação de perfis que, abertamente, divulgam, incentivam e apoiam criminosos.
Pessoalmente, nunca gostei de redes sociais. Sempre achei um ambiente excessivo. Não acho que, por mais interessante que seja uma vida, ela deva ser destrinchada, nos mínimos detalhes, com todo mundo. Também considero um pouco doentio esperar receber aprovação de todos o tempo inteiro, num círculo viciante, inútil, mas que não é estéril.
Mesmo considerando isso, uso redes em nível profissional e não sou aquela pessoa que acha que as tecnologias de rede deveriam deixar de existir. Alguns perfis são socialmente até necessários e as contas empresariais éticas facilitam muito a vida da gente.
No entanto, passei a refletir sobre isso ao começar a ler “Terra Arrasada. Além da era digital rumo a um mundo pós capitalista”, de Jonathan Crary, historiador, atualmente membro efetivo do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Crary tem passagem pelas universidades de Harvard e Columbia, fundou a editora Zone Books e editou pensadores relevantes com Agamben, além de escrever para revistas.
O livro de Jonathan Crary nos faz pensar em quanto o mundo piorou com as redes sociais. O que antes parecia uma brincadeira inocente de conectar-se com amigos e desconhecidos que passaram também a ser chamados de amigos, o mundo subdividiu-se em bolhas perigosas e nas entranhas das redes mora, segundo Crary, um capitalismo digital perverso que remunera crime, pedofilia e extremismos de toda sorte.
O crítico de arte afirma que não devemos considerar como verdade que as redes sociais “vieram para ficar” e que o capitalismo não sobreviveria sem a tecnologia das redes. Para ele, essas tecnologias “dominaram e estão deformando as nossas vidas”, além de nos levar ao “empobrecimento e à corrosão da experiência individual e compartilhada”.
É uma nova forma de pensar. Num primeiro momento, achei a ideia “revolucionária” demais. No entanto, à medida que continuei a ler fui concordando com o autor. Quando pessoas usam redes sociais para guiar jovens em ataques a escolas, quando crianças estão sob o controle de mídias como Tik Tok, quando a vida humana está norteada por algoritmos, quando as plataformas se tornam impérios econômicos à despeito do mundo em frangalhos e se eximem de qualquer responsabilidade, remunerando conteúdos socialmente prejudiciais, devo concluir que a brincadeira de fazer amigos transformou-se num monstro.
E as escolas com isso? Os ataques às escolas e o apoio a esse desvio completo de humanidade é reflexo direto da “terra arrasada” que estamos construindo.
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.