Logo O POVO+
Por que Flávio Dino não leva bolsonarista a sério
Foto de Regina Ribeiro
clique para exibir bio do colunista

Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

Por que Flávio Dino não leva bolsonarista a sério

O que deve ser levado muito a sério é o discurso que desmonta a escassez de articulação mental de alguns homens de bem, de diversos meio-honestos e de uma nova categoria que está surgindo no Brasil, os neo-pacíficos.
Tipo Análise
Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (Foto: Lula Marques/ Agência Brasil)
Foto: Lula Marques/ Agência Brasil Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino

. 

 

Lembro-me de um artigo que o economista Marcos Lisboa escreveu para a revista Piauí, em 2919, no qual analisava o avanço das ideias bolsonaristas numa proporção que mais parecia uma avalanche. Na ocasião, Lisboa e Samuel Pessôa estavam lançando o livro O Valor das ideias: Debate em tempos turbulentos. Quem os acompanha sabe o quanto eles divergem em muitos pontos, em termos de política-econômica, e o livro era um símbolo de um mínimo de civilidade no meio da confusão impulsionada no País por Jair Bolsonaro a partir de 2018.

No ensaio para a revista, Marcos Lisboa defende uma mudança radical quanto ao tratar as ideias desconexas de Bolsonaro e seus adeptos. Ele escreveu que, durante anos, Bolsonaro não havia sido levado a sério pelas cabeças pensantes do País e muitas dessas cabeças continuavam equivocadas fazendo cálculos de um personagem rude, obtuso e ignorante sem ver que o método do caos era extremamente eficiente como política de Estado. Seria necessário, urgente até, levar o bolsonarismo a sério e estudá-lo nas suas entranhas para buscar uma reação à altura.

O ministro Flávio Dino parece ter resolvido testar a ideia de Marcos Lisboa, porque tudo o que ele faz é não levar o bolsonarismo nem os bolsonaristas a sério. E, sim, o discurso. Pelo que consta, pela primeira vez, temos um diálogo equilibrado entre os polos. Diante do ministro da Justiça, Flávio Dino, pessoas de estatura intelectual muito baixa, como demonstra ser o caso do deputado André Fernandes, ficam ainda menores, chegam a rastejar. Até mesmo aqueles que posam com ar de muita competência, como Sérgio Moro e Delton Dallagnol, batem em retirada diante das acertadas de Flávio Dino.

Enquanto reclamam de “deboche” e “falta de respeito” por parte do ministro, Dino os coloca de volta nas cadeiras da escola, solicitando que eles revisem o significado de palavras simples e os carrega pelas mãos – ou os jogam – de um lado para o outro do passado ao presente - e o inverso -, em questão de minutos e chacoalham suas ideias até provar que não há nada em que eles possam se agarrar a não ser na própria incompetência discursiva.

Na coluna do jornalista Gualter George, no último domingo, há uma avaliação do senador Eduardo Girão sobre a participação do ministro petista nas comissões da Câmara e do Senado. Ele considera a postura do ministro “debochada, prepotente, arrogante e que em nada colabora para o processo de pacificação do País”. Daí eu me pergunto por que o senador Girão endossou informações falsas sobre vacinas, e mesmo autointitulando-se “independente” sempre ficou ao lado do discurso golpista de Bolsonaro. Esquisito que o senador não tenha usado seus espaços públicos de debate para condenar abertamente as joias recebidas por Bolsonaro ou a saga burlesca do falso cartão de vacina do ex-presidente, só para citar dois episódios.

Flávio Dino e sua capacidade de dar respostas que alcançam o alvo do bolsonarismo comprovam: Bolsonaristas não devem ser levados a sério. O que deve ser levado muito a sério é o discurso que desmonta a escassez de articulação mental de alguns homens de bem, de diversos meio-honestos e de uma nova categoria que está surgindo no Brasil, os neo-pacíficos.

 

Foto do Regina Ribeiro

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?