Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
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O submersível Titan entrou no mar rumo aos destroços do Titanic no domingo dia 18, levando a bordo três bilionários, o maior especialista em Titanic e um jovem, filho de um deles. Caso a viagem tivesse sido concluída com sucesso, nada saberíamos sobre o gosto estranho de enfrentar a profundeza dos mares a bordo de um veículo que mais parecia um brinquedo, controlado por um joystick, cuja comunicação com a superfície se dava por mensagem de texto a cada 15 minutos. Horas depois de Titan emudecer, começou a movimentação envolvendo Estados Unidos e Canadá para encontrar o submersível e seus tripulantes. Na quinta-feira passada, a tragédia veio à tona. O Titan teria sofrido uma implosão, amassando de fora para dentro e fragmentando-se, junto com os viajantes, num espaço de tempo infinitamente menor do que uma piscada de olhos.
Acompanhar essa história e todas as informações que emergiram com o trágico fim do Titan me fez pensar em como o mundo dos super endinheirados tem suas distinções e faz muita diferença. Referência de rico é João Moreira Salles. Herdeiro do Unibanco – que fundiu com o Itaú – a fortuna do rapaz é estimada em US$ 2,8 bilhões, segundo a revista Forbes. João criou o Instituto Serrapilhadeira para investir em pesquisa científica destinando recursos e tempo a ideias que sejam realmente originais e que possam fazer a ciência progredir no País. Outra rica que eu admiro é a Maria Alice Setúbal, ou Neca Setúbal, por sua atuação e preocupação com os rumos da educação no Brasil, não apenas em discursos, mas na promoção de uma educação de melhor qualidade para o País.
Mas há os ricaços, aqueles esbanjadores, cuja riqueza ostensiva está aí medindo distância e força. Um bom exemplo de ricaço era o dono da Ocean Gate, Stockton Rush, criador do Titan. Filho de milionários, criou para si um personagem que rompe com a tradição só pelo prazer de ultrapassar limites. Um tipo Gatsby absolutista e autodestrutivo.
Um dos textos que li sobre esse caso chamava a atenção para o fato de a experiência de Rush não deixar nenhum legado à pesquisa sobre submersíveis, pelo simples fato dele ter sido negligente com tudo que já havia sido pesquisado e comprovadamente não ter dado certo. A fibra de carbono usada por ele no Titan fora apenas uma teimosia de ricaço que se provou implosiva.
Por fim, os ricaços são prenhes em riquices, fenômeno que pesquisadores de Harvard como Ellen Larger traduzem “quebra da natureza mundana de suas vidas cotidianas”. Claro que a categoria riquice não existe, meu povo, mas ela dá conta – pelo menos para uso neste texto – de uma prática entre aqueles que podem gastar o equivalente a R$ 1,2 milhão para ver o Titanic ou até R$ 580 milhões para dar uma volta no espaço.
A riquice também pode se transformar em jóias com pedras preciosas do tamanho de uma insula – a parte do cérebro responsável pelas emoções e empatia – que apenas pouquíssimas pessoas ostentam. O exclusivismo é riquice. O psicólogo Scott Lyons sugere que os bilionários buscam turismo com adrenalina para se “sentirem vivos”. Ou, pasmem, o exclusivismo pode querer melhorar a baixa autoestima. “O dinheiro não necessariamente lhe dá estima”, conclui Scott.
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