
Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
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Dando uma espiada nos episódios recentes pós eleições ainda é possível ver – na memória – pessoas ajoelhadas em frente aos quartéis pedindo intervenção militar no País a fim de impedir a posse do presidente eleito, Lula da Silva. Entre abril de 2021 a outubro de 2022, o então presidente Jair Bolsonaro repetiu algumas vezes em lives e em público que só Deus o “tiraria da presidência da República”. Em outubro de 2022, ele foi além: “Só Deus me tira dessa cadeira presidencial, me tira, obviamente, tirando a minha vida”.
Às vésperas de entregar a cadeira da presidência, Bolsonaro quedou-se mudo. Nunca abriu a boca para admitir-se derrotado no pleito legítimo que ele fez de tudo para torná-lo ilegítimo, seja com ameaças e perturbações de toda ordem, seja com chantagens político-emocionais, valendo-se dos apoiadores mais sensíveis que creem em comunismo às portas, em Terra Plana, e num semideus presidencial. Tudo isso, Bolsonaro hoje toma como “consciência política”, legado do seu governo.
Antes da posse do presidente Lula, até 8 de janeiro, vimos a escalada da violência em Brasília, nas estradas, em frente a prédios públicos, como aconteceu no dia da diplomação do candidato eleito do PT. Antes a violência política já havia chegado às famílias, às igrejas, aos vizinhos Brasil afora, a assassinatos de pessoas por motivação política.
Na última sexta-feira, enquanto assistia à sessão do TSE que tornou Bolsonaro inelegível até 2030, lia uma matéria que afirmava que o País estava calmo: “o dólar estava em queda, as bolsas em alta”. Meu Deus, como assim? Medir a tranquilidade de um país nesses termos? Quando Bolsonaro pintava o sete no Brasil, as bolsas estavam nas alturas. Mas o fato é que o Brasil estava cuidando da própria vida. O povo ficou em casa, as bandeiras quietas. No Twitter, os apoiadores colocaram as barbas de molho e – parece – não tiraram até agora.
Os pastores que antes juravam que Bolsonaro era enviado do próprio Deus como governante, de repente, leram o provérbio de Salomão: “até um tolo é tido como sábio quando se cala”. As ruas estão cheias de carros indo aos shoppings, afinal, são férias escolares. Os apoiadores estão preocupados porque Sérgio Moro calou-se diante da inelegibilidade do ex-chefe. Bolsonaro desabafou ontem dizendo que “está na UTI, mas está vivo”, criticando os que avançam sobre seu espólio político.
Tudo indica que Jair Bolsonaro está só. Tão só quanto aqueles que o então presidente desprezou durante seu mandato, a partir dos 300 de Esparta fake de Brasília, que acampados na praça dos Três Poderes, injuriavam o STF. Tão só quanto os ministros defenestrados, humilhados, desautorizados e jogados fora do seu governo. Bolsonaro não é um homem gentil. Alguns homens dizem que o ex-líder é “enfático”. Eu digo que é um despreparado emocional e intelectual, além de grosseiro e autoritário.
O Brasil não está nadando num mar de rosas. O bolsonarismo é um estado de espírito, uma corrente política, um modo de pensar a vida. Mesmo sem o personagem central, continua firme e tudo bem. Uma democracia só existe na refrega dos grupos contrários, no acolhimento das minorias e no cuidado com o País e seu povo.
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