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Como a Psicologia Positiva e a Economia criaram a indústria da felicidade
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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

Como a Psicologia Positiva e a Economia criaram a indústria da felicidade

O texto revela quão falhos são os alicerces da Psicologia Positiva com bases econômicas. Doenças mentais como depressão e ansiedade consomem zilhões de dólares das empresas e dos serviços de saúde.
Tipo Análise
Relações tóxicas (Foto: O POVO.DOC)
Foto: O POVO.DOC Relações tóxicas

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O negócio é ser feliz. No século XXI, a felicidade se tornou uma obrigação e para alcançá-la foi criado um grande e poderoso ecossistema que invadiu todas as áreas. Estado, famílias, empresas, relacionamentos, escolas, universidades. Para medir os níveis de felicidade apareceram questionários, métricas e índices que vasculham e medem a felicidade das pessoas tanto em nível individual quanto em termos de nação.

Como, quando, por que e quais as consequências dessa guinada que o mundo deu rumo à felicidade de forma imperiosa está contada no livro “Happycracia, fabricando cidadãos felizes”. Para a empreitada, o psicólogo espanhol Edgar Cabanas e a socióloga marroquina Eva Illouz se debruçaram sobre o episódio que, segundo eles, foi o marco para se começar a viver no mundo “feliz e fantasioso”.

Início dos anos 2.000, Martin Seligman assume a Associação de Psicologia dos Estados Unidos com uma ideia muito simples: em vez de focar nos problemas que levam as pessoas aos serviços de psicologia, o ideal seria focar no bem estar daqueles que passavam longe das clínicas psicológicas – a grande maioria das pessoas – convencendo-as a buscar a felicidade, que viria sem dúvida, quando todo o potencial de vida se manifestasse no indivíduo. Nascia ali a Psicologia Positiva que, aliada à Economia, revolucionou a indústria da felicidade.

O rastro da positividade caiu como uma luva no momento histórico do neoliberalismo que se firmara deixando de olhar as imensas desigualdades sociais que estavam sendo modeladas no mundo desenvolvido e nos países em desenvolvimento. A mensagem que diz: “Não importa quanto dinheiro você tenha, mas se estiver feliz, tudo bem” atraiu intelectuais, psicólogos, chefes de estado, economistas de Harvard. O segredo passou a ser a felicidade, sem importar que a pobreza estivesse aumentando ou que pessoas povoassem países cada um por si, como foi possível verificar durante a pandemia do coronavírus. A felicidade passou a ser uma tarefa do hiperindividualismo.

Cabanas e Illouz enumeram a infinidade de psicoterapias que passaram a ser utilizadas para dar conta dessa felicidade obrigatória. Desde a meditação até a farta literatura que põe nas costas do indivíduo toda a carga da busca pela felicidade, passando pela indústria dos coaches, um plantel de profissionais surgiu ou modificou suas atuações para atender a esse mercado.

Num cenário fértil de crises econômicas como a que atingiu os Estados Unidos em 2008, com repercussões em vários países, o surgimento de mídias sociais com suas vitrines de pessoas felizes e a vasta proliferação de índices e métricas, a felicidade assumiu de uma vez por todas o podium de mercadoria de primeira necessidade que pode ser comprada e se confunde com o próprio consumo.

O texto revela quão falhos são os alicerces da Psicologia Positiva com bases econômicas. Doenças mentais como depressão e ansiedade consomem zilhões de dólares das empresas e dos serviços de saúde. Além disso, as metodologias apontadas pelos índices, para Cabanas e Illouz, mascaram as diferenças cruciais dos respondentes dos questionários, prejudicando de forma brutal aqueles que estão à margem do consumo.

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