Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
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Voltei a “Três Guinéus”, de Virginia Woolf, após o início da guerra Hamas-Israel. Esse texto é um relato contundente sobre a guerra mundial (1939-1945) que atingiu em cheio a Europa, aliás, boa parte do mundo. Virginia respondia a uma carta enviada por um advogado inglês que lhe perguntava: “É possível evitar uma guerra?”
Por algum motivo, o texto me pareceu deslocado, não pelo tempo ou fatos, porque a autora aborda a guerra em si e por quem ela era feita – e continua sendo. E tudo isso ainda é muito atual. Virginia Woolf estava rodeada de “histórias de vida” relatadas pelos jornais que se acumulavam sobre sua mesa. O que ela via, apesar de estar num país no centro do conflito, eram as “fotografias sangrentas” da refrega que deixou milhões de mortos por todos os lugares e a destruição que é própria das guerras, sem falar da dor, porque essa, na maior parte das vezes, é inalcançável e intraduzível.
Hoje, estamos todos rodeados de vídeos e de numerosos textos que a cada instante contam de uma guerra cujo estopim expõe a estupidez e a baixeza humanas de atacar pessoas inocentes ao nascer do dia. Invadir residências para matar idosos, crianças, sequestrar mães com filhos pequenos; além de assassinar centenas de jovens numa festa, como fez o grupo terrorista Hamas. Não é possível, nem de longe, fazer algum tipo de comparação determinista e de simples causalidade como se as pessoas fossem programadas para praticarem coisas desse tipo.
Ao falar assim, não desconsidero que a política de Israel nos territórios palestinos é intransigente, brutal e desumano. A guerra de 2014 que confinou os palestinos em Gaza é, do ponto de vista humanitário, indecente. Se a guerra é contra o Hamas, é o Hamas que precisa ser perseguido, não as mulheres que, tradicionalmente, são as que mais sofrem com as guerras, não as crianças que se veem órfãs e têm suas vidas marcadas para sempre.
Pouco antes de estourar a guerra, por acaso, havia assistido ao filme “Gaza”, que narra o conflito entre Israel e os palestinos na Faixa de Gaza, em 2014, e penso agora que todas aquelas crianças do documentário, hoje jovens, podem estar mortas. A menina que teve parte das vísceras expostas e sobreviveu, a outra que não conseguia falar sobre os pais mortos, o menino que preferia ter morrido a lembrar que havia perdido irmãos e primos durante a guerra. Todos eles perguntavam “por quê?” “Por que isso aconteceu?”.
Nesse mundo ruidoso com opinião demais, imagens em excesso, do horror exacerbado, não entendo aqueles que justificam mortes com mais mortes, que consideram que Israel pode fazer o que quiser com os palestinos “porque todos eles merecem”. Fico emudecida diante de gente que crê que o Hamas é um legítimo representante do povo palestino e que fez a coisa certa em atacar Israel devido aos anos de opressão israelense. E se o Hamas governasse Gaza democraticamente e ouvisse do seu povo o que seria melhor para eles?
A guerra entre Hamas e Israel chega num mundo polarizado e surdo. Estamos, há anos, exercitando indiferença contra o outro. Há tempos submergimos em bolhas particulares, sucumbindo a discursos beligerantes, onde, seguramente, não cabe nada além daquilo que queremos ver e ouvir.
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