Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
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Por que será que a atual primeira dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja, incomoda tanto, e aos bolsonaristas em particular? Não é segredo para ninguém que a extrema direita tem um ideal de mulher e que isso faz parte do arco de ideológico dessa corrente. Na Itália, a figura materna devotada ao lar e religiosa assumiu o posto de referência feminina durante o período de Mussulini no poder. Na Alemanha nazista, a mulher assumia nas costas a responsabilidade de educar e preparar arianos para o novo mundo que estava surgindo.
Regimes ditatoriais e de democracias iliberais – conceito da filósofa húngara Ágnes Heller - , de um modo em geral, criam espaços para moldar mulheres à imagem e semelhança dos seus ideais. Na Hungria, atualmente, está em discussão o fato de que as mulheres são culpadas pelo mau desempenho dos homens na educação e no mundo do trabalho. Órban já disse algumas vezes que a educação rosa que promove o acesso das mulheres às universidade é “nefasta” para o país, porque reduz a fertilidade, “ameaça a economia” e prejudica os homens.
No Brasil, a “família” teve papel preponderante no discurso do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2023). Possíveis ameaças à família tradicional se transformaram uma avalanche de ataques contra tudo e todos que não cabiam no modelo escolhido pelos bolsonaros. Nesse rascunho mal elaborado, Michele coube como uma luva. Na primeira entrevista que ela concedeu à Record, falou que o marido era um “príncipe”. Sempre pousou de “ajudadora”, de submissa, religiosa, daquela que suporta.
O que veio a público durante e depois que o casal ocupou o Palácio da Alvorada parece muito diferente do modelo que os bolsonaristas adotaram. E pode ser que justamente aí é que more a raiz do aparente despeito que muitos adeptos do bolsonarismo têm da atual primeira dama. Ela não precisa fingir nada. Ela apenas é. Usa de integridade com as suas ideias. A moça já era como é antes de ser primeira-dama. Socióloga, tem uma formação que a faz se identificar com vários tipos de mulheres. Reconhece-as e dá voz à pluralidade. Coisa que Michele nunca soube do que se trata, exceto, claro, as fiéis das igrejas, que é um público considerável, sem dúvida.
Outra característica que talvez impacte em Janja é fato de ela ser uma mulher que não faz esforço para ser perfeita, que sabe das suas limitações, que age de acordo com seus princípios que parecem ser transparentes. Ela sabe que não agrada a todo mundo, sabe que não é possível fazer isso nem sequer se esforça.
No último domingo, Janja deu uma entrevista ao jornal O Globo. Repercussões maldosas da entrevista estão por toda parte, a principal delas é que a mulher do presidente Lula quer um gabinete de primeira-dama. Ela não falou isso. Defendeu, sim, um novo papel de primeira-dama que seja atuante de acordo com o papel das mulheres na contemporaneidade. Acho interessante fincar pé e permanecer ao lado do presidente nas cerimônias, ocupar espaços de forma propositiva e não envergar de coitada num país machista como o nosso.
Na entrevista, ela relata ter cobrado da CEO da Google no Brasil sobre o quanto pessoas ganham dinheiro com mentiras a respeito dela. Existem publicações da Janja com corpos de outros pessoas. Isso que já existia muito antes da inteligência artificial, agora é coisa de adolescente. Qualquer um faz, viraliza e dá dinheiro pago pelas big techs.
Em termos de primeira-dama, o melhor que eu acho é ter Janja neste posto é ver uma mulher que não vai colocar recebidos de lingerie no Instagram, que não faz do espaço um trampolim para o comércio e, principalmente, não mercadeja a fé. Janja é uma mulher do seu tempo, com todas as questões que nos assolam e que sabe aproveitar as oportunidades que a vida está lhe dando com firmeza e elegância.
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