Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Não é a primeira vez que a esposa do presidente Lula, a Janja, ganha matéria depreciativa sobre seu jeito de ser e agir com certa desenvoltura no governo do marido, opinando e dizendo o que pensa. Ela incomoda.
Já foi acusada de tirar Lula do convívio de petistas históricos e “obrigar” o presidente a ter hora para comer, o que prejudicaria as conversas com políticos.
Também li que muitos ministros têm de “lhe tomar a bênção” para não serem fritos junto ao presidente. Leio essas coisas com uma dose imensa de desconfiança.
Todo mundo que tem uma certa noção das coisas sabe muitíssimo bem como se dá o entorno de qualquer poder: cheio de intrigas, empurra-empurra dos que querem se dar bem a todo custo, problemas de toda ordem, confusões, amigos de ocasião, inimigos camuflados, inveja, despeito, ressentimento, o diabo a quatro.
Janja e todas as primeiras damas “silenciosas” lidaram com tudo isso. Pelo ritual, permaneceram cegas, surdas e mudas. Menos Janja que se importa com as coisas, tem opinião própria, dá palpite e enquadra o homem Lula com regras básicas para a sobrevivência dele. E ela está certa.
Lembro-me de uma entrevista que Janja deu logo após o presidente Lula ser eleito, e ela disse na ocasião que temeu algumas vezes pela vida do marido. Olha a intuição da moça.
Domingo passado o jornal “Estado de S. Paulo”, publicou um libelo machista chamado “Ressignificando Janja”.
Num tom patriarcal-agressivo, o editorialista praticamente diz em alto e bom tom: “Senta lá, Janja e te cala”. Fazia tempo que não lia algo tão acintoso contra uma pessoa.
Lá pelas tantas, o editorial afirma que a esposa de Lula está convencida de que “o papel dela é criar problemas”.
O mote foi Janja ter se referido a Elon Musk num tom pejorativo durante um dos encontros do G-20, no Rio de Janeiro, há cerca de 10 dias. Vi o trecho da fala da primeira-dama e o contexto não é o do xingamento explícito. Mas o contexto não importa e Janja foi massacrada por todo mundo.
A coisa ganhou tal relevância que o presidente Lula lhe passou um pito público e parecia que o encontro do G-20 estaria ameaçado por causa de Janja, o que nunca foi verdadeiro.
O ex-presidente golpista Jair Bolsonaro, um ogro diplomático, chegou a ser apoiado por muitos empresários diante da sua indelicadeza com Brigitte Macron.
Quem não lembra do ex-ministro Paulo Guedes, ovacionado na Fiec, em Fortaleza, quando repetiu o insulto à esposa do presidente francês para defender o chefe?
Bolsonaro, o piadista, sugeriu que os chineses tinham algo muito pequeno numa referência à fixação que ele tem com o falo dos outros, talvez para esquecer o seu próprio.
O texto do Estadão exalta a diplomacia brasileira por ter contornado os “desastres de Janja”. Lembrou que a mulher de Lula não foi votada e não tem cargo. Deve, portanto, se resumir à sua insignificância e tornar-se uma ausente institucional. É muita desfaçatez.
É aquele velho machismo incrustado até a raiz dos cabelos. Óbvio que quem se propõe a falar precisa ter cautela. Mas Janja deve, sim, continuar significando a si mesma nas tarefas que se propõe a fazer e se manter uma ativa observadora do governo. Quem gostar, bem. Quem não gostar, paciência.
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