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O retorno de Trump e o desencanto do mundo
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Sou jornalista de formação. Tenho o privilégio de ter uma vida marcada pela leitura e pela escrita. Foi a única coisa que eu fiz na vida até o momento. Claro, além de criar meus três filhos. Trabalhei como repórter, editora de algumas áreas do O POVO, editei livros de literatura, fiz um mestrado em Literatura na Universidade Federal do Ceará (UFC). Sigo aprendendo sempre. É o que importa pra mim

O retorno de Trump e o desencanto do mundo

O retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos sinalizam, para o economista Paul Krugman, nobel de Economia, o desalento do mundo que leva as pessoas a apoiarem o governo dos piores
Tipo Opinião
Donald Trump tomou posse como presidentes dos EUA na última segunda-feira, 20 (Foto: KAMIL KRZACZYNSKI / AFP)
Foto: KAMIL KRZACZYNSKI / AFP Donald Trump tomou posse como presidentes dos EUA na última segunda-feira, 20

O último artigo que o economista Paul Krugman escreveu para o “New York Times” anunciando sua despedida daquele veículo, um mês após a vitória eleitoral de Trump, nos Estados Unidos, tenta responder o que aconteceu com o mundo desde quando ele começou a escrever para o jornal, há 25 anos. “O que azedou?”, pergunta o prêmio Nobel de Economia (2008).

Krugman conseguiu, por um quarto de século, traduzir a economia de forma simples e compartilhar uma visão privilegiada do mundo. Não sucumbiu às métricas econômicas puras que levaram a internacionalização econômica se tornar um mero cassino institucionalizado.

Paul Krugman criticou, de véspera, o discurso globalizante que previa um desenvolvimento incessante para todos os países. O economista disse que isso não aconteceria nunca e que, em alguns casos, a circulação global de bens e serviços promoveria uma grande desigualdade de renda em algumas regiões do mundo. Se a gente olhar para o que acontece nos próprios Estados Unidos, conseguimos perceber o quanto ele estava certo.

Lembrei-me desse texto, lido em dezembro passado, enquanto acompanhava na última segunda-feira, a posse do presidente Donald Trump. Além da riqueza gestual e dos personagens que tomaram seus lugares no topo do mundo, prestei muita atenção às palavras. E as palavras de Trump são assustadoras.

O superlativo, a grandiloquência, a megalomania, o desprezo por tudo o que se opõe ao seu projeto, incluindo as fronteiras dos territórios que fazem parte do propósito explícito de tornar os Estados Unidos uma nova Roma.

A gente sabe – e os donos do poder sabem muito mais – que as palavras têm efeito de identificação quase imediato e o discurso de Trump foi melhor compreendido do que o de Kamala Harris. Ele faz o discurso do vencedor, de um todo poderoso, de um Ulisses que enfrentou a tormenta dos mares e dos deuses e retornou para sua Ítaca.

Krugman acerta de novo quando afirma que o desencanto com as lideranças ditas progressistas, a dúvida em torno dos seus projetos, o ressentimento incrustado numa população deixada à margem tornou o mundo “azedo e desesperançado".

Trump não apenas instaura uma nova era nos Estados Unidos. Da última vez que ele governou, criou fatos alternativos e impulsionou o que chamamos hoje de pós-verdade. Neste mandato, ele aliou-se aos donos das bigs techs, aqueles que podem criar “verdades” ou impedir que elas se estabeleçam, além de impulsionar mentiras ao bel prazer do poder. O que são as pessoas nesse regime? Apenas frágeis elos. Sapateando, soltando o grito Yeah! e de braço estendido para a plateia, Elon Musk sintetizou a vitória desse novo tempo.

Mas, Krugman, ficou conhecido justamente por não ser um pessimista, como acontece com praticamente todos os economistas que a gente conhece, basta dar uma olhada nos jornais diários. Se não for para anunciar uma crise, eles nem falam. Sim, Krugman afirma algo esperançoso. Ele diz que em algum momento as pessoas vão perceber que precisamos lutar contra a “caquistocracia – o governo dos piores – que emerge neste momento, e poderemos encontrar o caminho de volta para um mundo melhor”.

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