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Juazeiro do Norte: um exemplo de economia caótica
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Sou jornalista de formação. Tenho o privilégio de ter uma vida marcada pela leitura e pela escrita. Foi a única coisa que eu fiz na vida até o momento. Claro, além de criar meus três filhos. Trabalhei como repórter, editora de algumas áreas do O POVO, editei livros de literatura, fiz um mestrado em Literatura na Universidade Federal do Ceará (UFC). Sigo aprendendo sempre. É o que importa pra mim

Juazeiro do Norte: um exemplo de economia caótica

Estão em arrumação, Juazeiro do Norte investe e se moderniza, mas sem nunca acabar com o Altar na sala, a oficina no quintal, e a imagem santa daquele que ensinou ao músico Luiz Gonzaga
Orto Padre Cicero no Juazeiro do Norte (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Orto Padre Cicero no Juazeiro do Norte

O Anuário do Cariri foi lançado na última segunda-feira, 29, na cidade que cresce muito além da sua fé. Mas sem jamais desrespeitá-la.

Incontáveis pesquisadores já buscaram estudar o crescimento econômico do ecossistema Cariri. Em particular, a cidade de Juazeiro do Norte, hoje a “capital” do Cariri, tamanha a sua pujança cultural e econômica.

Historicamente, Juazeiro é muito mais nova do que o município do Crato, que este ano completa 261 anos e que mais de cem anos depois de sua fundação cedeu uma costela do seu território, a Fazenda Grande, para se tornar independente e sob o cajado de Padre Cícero denominar-se Juazeiro do Norte.

Essa história vem bem contada no Anuário do Cariri, lançado hoje em seu solo com a presença de dezenas de prefeitos de municípios da região, territórios mais antigos do que a noviça Juazeiro.

Mas minha prosa por aqui tem mais “fumo no cachimbo” por conta do Padre Cícero. Passei a admirá-lo muito menos pelos milagres incontáveis e mais pela inspiração que esse sacerdote representa do ponto de vista econômico na fundação da cidade.

Sua liderança pessoal e espiritual também fundaram uma experiência econômica que tornaram Juazeiro esse fenômeno municipal moderno. Cícero pode ter se inspirado em Ghandi; ou em Napoleão sem armas; talvez se vivo fosse à época, um seguidor de Marshall sem plano e sem capital. Os de muita Fé dirão: bastaram as letras da Bíblia. Padre Cícero guiou seu povo sob a égide de dois princípios: o do trabalho e o da Fé.

O trabalho compreendido como inovação e empreendedorismo, o criar, o fazer, o negociar. A Fé, como cajado, suporte espiritual à lida. Proclamou ele: “Em cada sala um oratório; em cada quintal uma oficina”. Revolucionário.

Foram essas as ferramentas da sua Igreja que moldaram legados como indústrias de armas, relógios de parede, munição, gráficas, ourives, confecções de tecido e couro, alimentos, artesanatos, móveis, instrumentos musicais, além de serviços de toda a ordem: alfaiates, sapateiros, e até um banco, criado em 1921 e abençoado pelo “Padim”.

A economia era um caos, diriam os teóricos. Os empreendimentos surgiam a partir de uma ideia na cabeça e a benção do Padre. Uma desordem geral, mas certamente guiada pelo mantra de Cícero. Esse modelo caótico de empreendedorismo vingou em varias nações, principalmente no Oriente Médio e Ásia. “O futuro a Deus pertence”, nada de regras determinísticas, linearidades.

Foi o que aconteceu com o município, e outros vizinhos impactados pelo seu sucesso. Não faz 30 anos, Juazeiro não tinha um só metro de rede de esgoto, os xixis escorriam pelas ruas. Mas é esse o método caótico do crescimento econômico. Um dia qualquer as coisas se arrumam.

Estão em arrumação, Juazeiro do Norte investe e se moderniza, mas sem nunca acabar com o Altar na sala, a oficina no quintal, e a imagem santa daquele que ensinou ao músico Luiz Gonzaga: “seu doutor uma esmola, para um homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.

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