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Ana e o Shell
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Renato Abê é jornalista, escritor e especialista em jornalismo cultural com pós-graduação em artes cênicas

Renato Abê arte e cultura

Ana e o Shell

Nosso teatro não precisa do Shell. Nunca precisamos da validação do eixo sudestino para ter compreensão da própria grandiosidade. Mas dá um gostinho especial saber que Ana e uma trupe de cearenses protagonizaram momentos marcantes nessa importante condecoração
Tipo Opinião
FORTALEZA-CE, BRASIL, 18-06-2024: Atriz Ana Marlene no Teatro José de Alencar. (foto: Beatriz Boblitz/O Povo)











 (Foto: Beatriz Boblitz)
Foto: Beatriz Boblitz FORTALEZA-CE, BRASIL, 18-06-2024: Atriz Ana Marlene no Teatro José de Alencar. (foto: Beatriz Boblitz/O Povo)

 No palco do Teatro Riachuelo, no Rio de Janeiro, as artistas indicadas na categoria "Melhor Atriz" são aclamadas pelo público enquanto são anunciadas. Nomes como Andrea Beltrão e Débora Falabella, conhecidas nacionalmente pela projeção via Rede Globo, conquistam muitos aplausos entre os presentes. Um nome quando chamado por Renata Sorrah, porém, recebe mais que palmas: Ana Marlene é reverenciada com vaia cearense.

Nosso gritinho típico pode indicar um sem-fim de molecagem, mas, naquela noite de entrega do Prêmio Shell, se traduzia em carinho pela artista cuja trajetória soma 45 anos de dedicação à arte. O caminho até o tapete vermelho do "Oscar do Teatro Brasileiro" foi pavimentado por Ana no teatro de rua, ao lado da Trupe Caba de Chegar, e em tantos projetos bem sucedidos nos palcos e nas telas.

A alegria pela indicação se torna ainda mais impactante quando consideramos os bastidores de "Egoísta", peça de renascimento de Ana. A cearense passou por cirurgia cardíaca delicada antes de iniciar os ensaios da obra. "Não me esperem não, porque eu não sei... Claro, se eu voltar inteira, a gente conversa", disse a atriz, antes de se internar em hospital, para a produção encabeçada por Juracy de Oliveira, Luana Caiubi, Renata Monte.

Em entrevista para as Páginas Azuis em junho de 2024, a atriz contou sobre o medo de morrer, a alegria pela recuperação e a responsabilidade de dar vida ao primeiro monólogo com um tema tão importante quanto o etarismo. Toda essa aventura deságua, então, numa noite de entrega do Shell. Débora Falabella, também multitalentosa, saiu com o troféu, mas Ana Marlene sai renovando a esperança das artes cênicas cearenses.

Nosso teatro não precisa do Shell. Nunca precisamos da validação do eixo sudestino para ter compreensão da própria grandiosidade. Mas dá um gostinho especial saber que Ana e uma trupe de cearenses protagonizaram momentos marcantes nessa importante condecoração.

Na terça 18 de março, data já cravada no calendário das artes cênicas do Estado, a artista cearense Jéssica Teixeira foi premiada na categoria "Direção" pela obra "Monga" e o grupo Pavilhão da Magnólia foi vencedor como "Destaque Nacional" pela peça "A força da Água". Motivos mil para comemorarmos não faltam, mas também não dá para fugir de um fato: os três projetos cearenses que brilharam no Shell são fruto de muita insistência dos artistas ali presentes.

Empolgado com as merecidas premiações, desejo mais e mais conquistas para os nossos artistas, mas sobretudo desejo menos e menos perrengue para que outras obras possam ser alçadas aos grandes palcos. Muitas Anas serão reconhecidas Brasil afora se, entre outros fatores, as políticas públicas se tornarem ainda mais completas para o setor e se as plateias cearenses estiverem ainda mais interessadas nos talentos da nossa terra.

Foto do Renato Abê

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