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Teatro de Fortaleza além do apagão
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Renato Abê é jornalista, escritor e especialista em jornalismo cultural com pós-graduação em artes cênicas

Renato Abê arte e cultura

Teatro de Fortaleza além do apagão

Vivemos um apagão recorrente na cultura quando o assunto é base de informação para embasar decisões. Acaba que a subjetividade – tão inerente ao fazer criativo – impera na ausência de dados

Fortaleza não decepciona no quesito talento. Os profissionais das artes cênicas com atuação na Capital são qualificados e criativos – com o adicional de que são forjados na luta para conseguir tirar do papel um projeto a ferro e fogo. Entretanto, a cidade riquíssima em cultura derrapa em toda a cadeia produtiva para manter esses talentos no palco.

A recém-lançada pesquisa "Praticante Cultural - O espectador de teatro na cidade de Fortaleza" aprofunda essa fragilidade e levanta dados para entendermos melhor esses porquês. Conduzido pelo ator, gestor e produtor cultural Caio Vidal, o estudo investiga o perfil e os hábitos do público fortalezense. O pesquisador entrevistou 250 pessoas em nove equipamentos da cidade durante o mês de março de 2025.

Antes de abordar os resultados, é importante celebrar a existência desse trabalho. Vivemos um apagão recorrente na cultura quando o assunto é base de informação para embasar decisões. Acaba que a subjetividade – tão inerente ao fazer criativo – impera na ausência de dados. Movimentos como a pesquisa “Cultura nas Capitais”, levantamento do Instituto JLeiva Cultura & Esporte, têm ajudado a mudar esse cenário, mas ainda precisamos avançar muito.

Munidos de informações, como essas disponíveis ao público no trabalho “Praticante Cultural”, conseguimos dar forma a essas ausências – e até conseguir quantificar melhor o que já sentimos no dia a dia de quem trabalha com teatro. A pesquisa revela um problema muito debatido por aqui: o público de teatro é formado, sobretudo, pelos amigos dos artistas. Uma plateia mais global ainda segue inacessível.

O estudo capitaneado por Caio Vidal mostra que a divulgação ainda é um gargalo muito grande que fomenta esse “nós por nós” na formação de plateia. 52,4% dos entrevistados afirmaram que souberam da programação por meio de convite de um amigo – 2,4% somam os resultados de Jornal e TV aberta. Este dado faz cair no colo de nós, jornalistas culturais, o desafio de tentar criar outras pontes de comunicação com um público amplo, mas também traz pra roda um paradoxo: essa informação não circula ou o público que não se engaja? Numa rápida visita ao perfil do Vida&Arte no Instagram, vemos que não faltam peças sendo anunciadas.

Outro fator macro também investigado pela pesquisa diz respeito aos meios de transportes para chegar até os espaços culturais. 71,8% do público entrevistado depende de carro (próprio ou de aplicativo) para ir ao teatro. O transporte público não conecta, de maneira eficiente, a população com os equipamentos artísticos? Como os demais órgãos da Prefeitura, para além da pasta da Cultura, têm olhado para a fruição e difusão da cultura enquanto direito do cidadão fortalezense?

O debate é amplo e a pesquisa merece aprofundamentos. Convido à leitura do ebook disponível no perfil @praticantecultural no Instagram. Só a informação precisa e qualificada vai nos ajudar verdadeiramente a virar o jogo da ausência de público nos teatros da Capital.

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