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Siará: a ponte que o cinema cearense precisava
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Renato Abê é jornalista, escritor e especialista em jornalismo cultural com pós-graduação em artes cênicas

Renato Abê arte e cultura

Siará: a ponte que o cinema cearense precisava

É noite de terça-feira e o Cineteatro São Luiz está lotado de apaixonados pela sétima arte. O clima é de contentamento e, no centro do palco, Rosemberg Cariry é ovacionado por uma plateia ansiosa por assistir ao filme “Lua Cambará: Nas Escadarias do Palácio”. O longa-metragem de 2002, até aqui praticamente perdido em acervos Brasil afora, foi recuperado e agora é símbolo de um novo momento do audiovisual no Estado.

A obra protagonizada por Dira Paes passou por restauração inédita no Museu da Imagem e do Som Chico Albuquerque (MIS-CE) e foi o filme escolhido para o evento de celebração dos 50 anos de carreira de Rosemberg. Se em 1996, com “Corisco & Dadá”, o cineasta cearense foi um dos símbolos do "Renascimento do Cinema Brasileiro", em 2025, com a saga da anti-heroína Lua Cambará, o diretor também é figura central de um novo momento do cinema cearense.

Estou falando da Siará+, plataforma de streaming gratuita que já estreia com mais de 50 títulos riquíssimos da filmografia do Estado (e também além das fronteiras). Assim como agrupa obras do Rosemberg, o serviço reúne ainda produções de nomes como Allan Deberton, Margarita Hernández, Armando Praça, Karim Aïnouz, Leonardo Mouramateus, Amanda Pontes, Wolney Oliveira e muitos outros talentos. A novidade chega para reforçar uma batalha antiga do setor: a busca para chegar até o público.

Fazer cinema no nosso país envolve um percurso dificultoso e custoso. Da pré à pós-produção, muitos são os desafios e, na realidade dos longas cearenses, a situação ainda é mais delicada do que para as obras produzidas no Sudeste: a briga por distribuição é mais dura.

Nesse cenário, muitos filmes que envolveram anos de pesquisa e muitas cifras para a sua realização chegavam ao público basicamente em festivais de cinema – com seu alcance evidentemente restrito. Eu mesmo, frequentador desses eventos, já vi muito filme cearense bom e pensei: como faço para rever? A Siará+ surge como essa janela e se soma a iniciativas como o próprio O POVO+, do Grupo de Comunicação O POVO, que também tem acervo de filmes e séries originais e de realizadores independentes do Estado.

Claro que a luta por presença nas salas de cinema segue sendo fundamental e uma só plataforma não é capaz de sanar outros desafios tão grandiosos, mas a divulgação gratuita de um acervo tão rico como o da Siará+ já é um grande alento. Ainda mais estreando nesse momento tão importante para o cinema cearense – que acaba de celebrar 100 anos – e para o cinema brasileira – recém-vencedor do seu primeiro Oscar.

Se lá atrás Rosemberg e muitos outros fizeram história com a retomada da produção nacional, agora o cineasta e seus pares também marcam outro momento na cronologia do audiovisual com essa iniciativa que deve inspirar outros estados brasileiros – sobretudo no Norte e Nordeste. O cineasta quer o olhar do público e agora temos uma nova ponte.

Foto do Renato Abê

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