
Renato Abê é jornalista, escritor e especialista em jornalismo cultural com pós-graduação em artes cênicas
Renato Abê é jornalista, escritor e especialista em jornalismo cultural com pós-graduação em artes cênicas
Escrevo este texto a 2.400 km de Fortaleza, na cidade de Itaocara, extremo noroeste fluminense. Enquanto a capital cearense se prepara para o início do 35º Cine Ceará, um dos principais eventos audiovisuais do calendário nacional, observo nosso cinema de uma cidade de 22 mil habitantes. Em comum, os dois municípios têm a sétima arte como importante ativo cultural – num contexto que vai muito além da (fundamental) simbologia da arte.
Seja ao refletir sobre um festival consolidado, que já soma mais de três décadas de trajetória, ou sobre uma cidade que ganhou um cinema há pouco mais de um ano, não tem jeito: o setor audiovisual mobiliza um território.
Estou em Itaocara a trabalho para ministrar um curso de “Escrita Criativa em Introdução ao Audiovisual”. A formação é realizada pelo CINE+, instituto que mantém rede de salas de cinema multiuso em cidades do Rio e do Ceará. São espaços culturais com acesso gratuito instalado, via de regra, em cidades fora dos grandes centros urbanos. Itapipoca, por exemplo, também possui uma unidade do programa.
No contexto de Itaocara, cuja maioria da população mora em zona rural, o cinema, enquanto experiência coletiva de fruição e formação, ainda é novidade e, aos poucos, os moradores vão se inteirando da cadeia do audiovisual como um todo – inclusive ao observar o potencial do município como locação para produtos audiovisuais. A secretaria municipal de cultura entendeu, enfim, que tem cenários deslumbrantes a mostrar. Enquanto os alunos estudam temas como edição e roteiro, a cidade já avança ao entender como o cinema integrará a cadeia econômica da região.
Já no meu estado de origem, temos a concretização do potencial da sétima arte. A “Pesquisa de impacto socioeconômico do setor audiovisual do Estado do Ceará”, realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), mostra que para cada R$1 real investido, o setor audiovisual cearense retorna R$3,10 à economia do Ceará. Ou seja, o que nós sabíamos agora está sistematizado no levantamento apresentado à classe artística pela Secretaria da Cultura do Ceará (Secult).
Além da evidente contribuição à formação humana, o contato com as narrativas que ganham nossas telas promove todo um ecossistema que, quando bem articulado, impacta financeiramente de uma maneira ampla numa região. Embora ainda distante de acompanhar o potencial do audiovisual cearense, nosso Estado se articula e os passos para a implantação da Ceará Filmes, primeira empresa pública de audiovisual cearense, vão orientando novos caminhos.
Nesse sentido, a chegada, a partir deste sábado, dia 20, de mais uma edição do Cine Ceará - Festival Ibero-americano de Cinema, apesar de todos os desafios enfrentados anualmente para sua execução, é um reforço de que essa luta da classe do audiovisual não é de hoje – e amanhã avançará ainda mais.
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