Logo O POVO+
"Rock Doido", o presente da música brasileira em 2025
Comentar
Foto de Renato Abê
clique para exibir bio do colunista

Renato Abê é jornalista, escritor e especialista em jornalismo cultural com pós-graduação em artes cênicas

Renato Abê arte e cultura

"Rock Doido", o presente da música brasileira em 2025

Na contramão da cartilha que norteou o showbiz da música por muito tempo, Gaby Amarantos não busca comunicar "universalidade" – no sentido de pensar abordagens visuais e sonoras que já parecem conhecidas para grande parte do público
Comentar

Em cima de um cênico elefante colorido digno da Sapucaí, Gaby Amarantos surge no palco do Prêmio Multishow em noite marcada pela presença de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Ney Matogrosso. A cantora paraense concorreu a alguns dos principais troféus da noite e teve uma das apresentações mais repercutidas nas redes sociais. No evento transmitido nacionalmente na última segunda-feira, 8, ela saiu com o prêmio de “Brega do Ano” pela música “Foguinho”.

No ano em que recebeu a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP30), o Pará também conquistou protagonismo na música. Não que Fafá de Belém, Joelma, Pinduca, Dona Onete, Beto Barbosa, Jaloo e tantos outros nomes do estado nortista já não tivessem mostrado o potencial de popularidade do Estado na música, mas Gaby e seu álbum “Rock Doido” são, sem dúvidas, um novo marco de entendimento do potencial da região.

Enquanto estrelas pop do mundo inteiro têm desistido de investir verba e potencial criativo em videoclipes, a voz de “Ex Mai Love” optou por produzir um filme com as músicas que compõem seu novo projeto. Gravado em plano sequência, ou seja, com continuidade narrativa sem cortes, a produção de execução complexa envolveu 250 profissionais num trabalho cheio de referências, ritmos e estilos.

Na contramão da cartilha que norteou o showbiz da música por muito tempo, Gaby não busca comunicar “universalidade” – no sentido de pensar abordagens visuais e sonoras que já parecem conhecidas para grande parte do público. Alinhada à proposta de artistas como João Gomes (no contexto nacional) e Bad Bunny (no cenário global), Gaby fez mais uma vez o que faz bem desde 2010: apostar no que sua terra tem de singular.

E esse recorte geográfico não significa que Gaby e esses demais artistas não queiram se conectar além das suas fronteiras. Pelo contrário, ao evidenciar signos regionais, o “Rock Doido” diverte ao soar original e convidativo para quem ama aparelhagem ou para quem nem sabe o que é uma.

No último fim de semana, inclusive, Fortaleza pôde sentir um gostinho dessa força do Norte. O Festival Elos trouxe para a Praia de Iracema o novo show de Gaby Amarantos e todo o brilho da aparelhagem J Som e sua Majestosa Fênix do Marajó.

Foi um momento de conexão do público da Capital com todo esse caldeirão paraense que merecidamente está em evidência neste ano. O público de mais de 60 mil pessoas que passou pelo evento teve a oportunidade de conhecer mais do modus operandi dessa cultura musical periférica que tem importantes similaridades e diferenças com a cearense.

Sem pasteurizar linguagem e sons, o “Rock Doido” sintetiza bem isso e muito mais que a cultura brasileira só encontra no Pará. Despretensioso e conceitual, o álbum deixa marca e abre caminhos para que o estado surpreenda ainda mais a música nacional com novos artistas criativos e talentosos.

 

Foto do Renato Abê

Os feitos e desafios de Fortaleza na cena cultural. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?