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A Geórgia: berço do vinho e a antiga tradição do Qvevri
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Renato Brasil é Químico pela UFC, Mestre em Gastronomia pela Universidade Nova de Lisboa, Docente em Enologia da UNICHRISTUS, Sommelier pela Associação Brasileira de Sommeliers - SP, diretor e fundador da ABS-CE, Docente dos cursos da ABS-CE e Consultor de vinhos para Importadores, distribuidores e restaurantes. Atual 3º lugar no campeonato brasileiro de Sommeliers ABS-Brasil 2019.

Renato Brasil gastronomia

A Geórgia: berço do vinho e a antiga tradição do Qvevri

Tipo Opinião
Qvevri Georgian (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Qvevri Georgian

Uma das primeiras referências de produção de vinho foi encontradas no Cáucaso, zona entre a Europa e Ásia. Em países dessa região, como Geórgia e Armênia, o vinho tem a sua história sendo contada há alguns milhares de anos, 8000 mil anos para ser mais preciso.

Inicialmente a produção era voltada à alimentação e rituais religioso. Só muito tempo depois é que o vinho chega para a apreciação hedônica. No consumo dos povos originários, que se alimentavam com o que tinham à sua disposição na pecuária ou caça, era também assim com o vinho, as uvas disponíveis, brancas ou tintas, ocasionando uma grande combinação de sabores diferentes de qualquer outro lugar do mundo.

Suas uvas são ainda pouco conhecidas no resto do planeta, com nomes diversos como Saperavi, Mtsvane Kakhuri, Kisi e katsiteli. Todas têm suas particularidades de aromas, sabores e texturas, que combinam bem com a gastronomia mundial.

O que realmente distingue a produção georgiana é o seu método ancestral: a fermentação e o envelhecimento em Qvevri. O Qvevri é uma grande ânfora de argila revestida internamente com cera de abelha, que é enterrada no solo até o gargalo. Esse recipiente singular permite que o vinho fermente e estagie em um ambiente de temperatura naturalmente controlada e constante.

A técnica é milenar e confere aos vinhos um perfil único, especialmente aos brancos. Nesses vinhos, as uvas brancas fermentam com as cascas, sementes e, por vezes, engaços, em contato prolongado, processo semelhante ao que hoje chamamos de "vinho laranja" ou "âmbar". O resultado são vinhos de cor profunda, com taninos notáveis e uma textura rica, complexa e oxidativa, diferente da maioria dos brancos modernos.

Suas uvas autóctones são ainda pouco conhecidas no resto do mundo, com nomes diversos como Saperavi (a casta tinta mais importante, que produz vinhos potentes e escuros), Mtsvane Kakhuri, Kisi e Rkatsiteli (as principais brancas). Entretanto, todas com suas particularidades de aromas, sabores e texturas que combinam com a gastronomia mundial.

Os vinhos da Geórgia convidam a uma viagem pela própria história do vinho, oferecendo uma experiência autêntica que conecta o bebedor moderno diretamente às raízes da civilização. É uma tradição viva, reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

Principais uvas da Geórgia

A Geórgia possui mais de 500 variedades de uvas nativas, muitas das quais são únicas no mundo. As duas mais importantes, no entanto, são a Saperavi (tinta) e a Rkatsiteli (branca).

Saperavi: a uva tinta mais proeminente da Geórgia, Saperavi significa "tinta, corante" na língua georgiana, uma alusão à sua cor profunda e escura. É uma das raras "uvas tintureiras" do mundo, com polpa e casca de cor escura.

Os vinhos de Saperavi são encorpados, com taninos robustos e acidez vibrante. Possuem notas de frutas escuras, como amora e cereja, e podem ter um longo potencial de envelhecimento.

Rkatsiteli: esta é a uva branca mais plantada na Geórgia e também em outras partes do leste europeu. É conhecida por sua alta acidez e aroma complexo, com notas que podem variar de maçã verde e pêssego a especiarias e toques florais.

Quando fermentada em qvevri com suas cascas, produz um vinho de âmbar de cor alaranjada, com taninos e uma textura mais encorpada, completamente diferente de um vinho branco tradicional, o chamado vinho Laranja.

O Uso do Qvevri: Uma Tradição Milenar

A joia da coroa da tradição vinícola georgiana é o qvevri (pronuncia-se "kvevri"). Estes são grandes ânforas de barro, forradas com cera de abelha, que são enterradas no solo até a borda. As uvas, com cascas, sementes e, às vezes, caules, são esmagadas e colocadas dentro do qvevri para a fermentação.

O enterro dos recipientes no solo mantém uma temperatura estável, ideal para a fermentação e envelhecimento. As cascas e sementes permanecem em contato com o mosto (suco de uva) por semanas ou até meses, o que confere aos vinhos uma complexidade, cor e estrutura tânica únicas.

Esta técnica ancestral, que resulta nos distintos "vinhos de âmbar", foi reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade em 2013.

As uvas eram simplesmente esmagadas e jogadas nesse ambiente onde se iniciava o processo de fermentação, e assim o resultado vinho saia da forma mais simples e regional possível.

Jantar com Master Class de vinhos da Geórgia - ABS - Ce

A Associação Brasileira de Sommeliers - Ceará promove no dia 8 de Outubro no DOC Trattoria & Winebar uma Master Class com "Os Vinhos Milenares da Geórgia - O Berço da Vinificação".

Direto do país reconhecido como o berço mundial do vinho, com mais de 8.000 anos de história, vamos mergulhar na cultura, terroir e nas lendárias 525 uvas autóctones da Geórgia.

Você vai descobrir os segredos do método ancestral Qvevri, patrimônio da humanidade pela Unesco com a degustação de vinhos dos principais estilos e uvas.

Degustação exclusiva de 6 rótulos, alguns apresentados na coluna e um menu exclusivo para a noite:

Rkatsiteli & Saperavi em diferentes expressões;

Comparação entre técnicas europeias e tradicionais georgianas;

Brancos, laranjas e tintos icônicos.

Serviço

  • Mais informações: (85) 99927.2956
  • Instagram: @abs_ce

 

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