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Massas e vinhos: combinação infinita de sentidos
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Renato Brasil é Químico pela UFC, Mestre em Gastronomia pela Universidade Nova de Lisboa, Docente em Enologia da UNICHRISTUS, Sommelier pela Associação Brasileira de Sommeliers - SP, diretor e fundador da ABS-CE, Docente dos cursos da ABS-CE e Consultor de vinhos para Importadores, distribuidores e restaurantes. Atual 3º lugar no campeonato brasileiro de Sommeliers ABS-Brasil 2019.

Renato Brasil gastronomia

Massas e vinhos: combinação infinita de sentidos

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Kleinkloof Chenin Blanc 2024 - África do Sul - Paarl (Foto: divulgação)
Foto: divulgação Kleinkloof Chenin Blanc 2024 - África do Sul - Paarl

No universo da gastronomia, uma das primeiras associações que vêm à mente ao pensar em vinhos e alimentos frequentemente envolve o casamento de vinhos com massas, sobretudo os de origem italiana. Essa união é um verdadeiro clássico, que celebra a inigualável riqueza da culinária italiana, conquistando paladares ao redor do globo e se tornando um pilar da dieta mundial.

O segredo fundamental para alcançar uma harmonização de sucesso e evitar deslizes está em compreender que o vinho não é escolhido para complementar o carboidrato em si e a escolha do grande acompanhante deve ser sempre orientada pelo elemento que dá mais sabor, que reveste o prato, o molho.

O macarrão, seja ele um spaghetti, um penne ou um fettuccine, desempenha um papel de mero veículo ou no máximo um elemento de textura. Inclusive o seu tamanho, formato ou dobradura têm relação com a textura do molho que ele vai interagir e como ele pode carregar mais desse molho à nossa boca em cada garfada.

O molho e a base proteica, com sua estrutura de sabor, nível de acidez, teor de gordura, intensidade aromática e textura da proteína, ditam as regras e, consequentemente, definem qual vinho será o par ideal para potencializar a experiência.

Simplicidade e Leveza

Quando pensamos um molho mais simples e aromático, o Aglio e Olio (Alho e Azeite), estamos agregando aroma e untuosidade, mas sem uma componente de sabor tão grande. A melhor escolha é um vinho leve, como um Pinot Grigio ou outro Branco Italiano Leve. A leveza e o frescor desses brancos evitam que o vinho domine a delicadeza do alho e do azeite, enquanto sua acidez lida sutilmente com a untuosidade.

Cremosos: A Luta pela Acidez

Molhos extremamente cremosos, como o Molho de Queijos (Quatro Queijos ou Alfredo), são marcados pela alta gordura e baixa acidez. Para evitar que o vinho pareça apagado, é crucial escolher um rótulo com acidez vibrante para equilibrar a cremosidade. Um Chardonnay sem Passagem por Madeira ou um Pinot Grigio oferecem o corpo médio e a acidez necessários sem competir com a textura do molho.

Vinho Di Lenardo - Pinot Grigio - 2024 - Friuli - Itália

Um produtor familiar do Friuli faz um vinho leve, com bom equilíbrio e frescor, seu final de boca é agradável e sutil. Seus sabores remetem a frutas cítricas, flores brancas e toques de maçãs, muito vivo para acompanhar massas com molhos untuosos
e minerais.

Molhos leves e com sabor delicado

De acordo com a informação gustativa é que podemos pensar nos vinhos. Imaginemos molhos à base de ervas, como o Molho Pesto, que combina frescor, azeite, pinoli e queijo (que confere gordura). A melhor aposta são os vinhos brancos leves e cítricos. O Sauvignon Blanc, com seu toque herbáceo, lembrando aspargos, e uma acidez viva cortam a gordura do azeite e do queijo, proporcionando leveza ao paladar.

Vasse Felix Sauvignon Blanc 2022 - Margaret River - Austrália

Fermentado com leveduras indígenas e maturado por 11 meses em barricas e foudres de carvalho francês usado, revela intensa complexidade aromática, combinando frutas tropicais maduras, notas cítricas e sutis nuances herbáceas. Em boca, apresenta textura cremosa, suculência equilibrada e final persistente, tornando-se uma verdadeira descoberta para os apreciadores de vinhos brancos refinados.

Molhos Tradicionais

Para os molhos mais tradicionais, como o Molho de Tomate (Sugo), que são caracterizados pela alta acidez e leve doçura, o ideal é buscar vinhos que compartilhem dessa característica. Aqui um prato super versátil em relação a vinho, pois pode tranquilamente suportar um branco imponente como um tinto jovem. Como opções, um Chardonnay refrescante da Serra do Sudeste ou quem sabe um Beaujolais francês da última safra. Estes vinhos, quando jovens, possuem naturalmente uma acidez elevada e taninos suaves, que se alinham perfeitamente com o tomate, criando uma ponte de sabor equilibrada.

* Beaujolais Nouveau 2025 (Joseph Drouhin) - Beaujolais - França

Elaborado com uvas Gamay de solos graníticos, revela suculentas notas de frutas vermelhas e amarelas, textura macia e aromas vibrantes. Um vinho alegre e delicado, perfeito para ser apreciado levemente fresco, sozinho ou em companhia de queijos, frios e pratos leves.

Molhos Ricos em Carne e Corpo

Quando a escolha recai sobre molhos mais ricos e densos, como o Molho de Carne (Ragu ou Bolonhesa), a intensidade e a alta gordura pedem vinhos com textura, taninos robustos para negociar persistência com as fibras e o sabor da carne. Recomenda-se o uso de tintos

poderosos como o Barolo da casta Nebbiolo ou um elegante vinho do Dão em Portugal, cujos taninos e acidez convivem harmônicos e são eficazes em "cortar" a gordura e equilibrar a riqueza do prato.

* Quinta dos Roques Touriga Nacional 2020 - Dão - Portugal

A elegância marca essa região e principalmente a Quinta dos Roques. Um Touriga Nacional de berço, no aroma todo o caráter da Touriga Nacional, com as típicas notas de violeta, ginja, frutos vermelhos, pinheiro e ervas frescas, carvalho dos seus 12 meses de passagem muito bem integrado. Encorpado, com estrutura sólida de taninos maduros, fruta intensa, muito complexo e equilibrado. Longo final de boca.

* Quinta dos Roques Touriga Nacional 2020 - Decanter

Frutos do mar e mariscos

A controversa Mineralidade: para massas com molho de frutos do mar ou mariscos, que são leves, salinos e com notas cítricas, a harmonização é feita com vinhos brancos muito secos e minerais. O Albariño, o Verdejo ou até mesmo um Espumante Brut são ideais, pois sua acidez realça o sabor do marisco e a efervescência do espumante tem um efeito refrescante e de "limpeza" no paladar.

* Kleinkloof Chenin Blanc 2024 - África do Sul - Paarl

De cor amarelo palha, jovem, no nariz traz notas de abacaxi e cítricos. Em boca possui ótima acidez, uma nota cítrica de muita jovialidade, com corpo médio e muita persistência. Muito bom vinho.

* Kleinkloof Chenin Blanc 2024 - Berkmann

 

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