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B. de Paiva: do cerrado para a terra da luz
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Ator, dramaturgo e diretor teatral. Fundador do Grupo Pesquisa (1978) e um dos integrantes da equipe fundadora da Televisão Educativa do Ceará (hoje TVC) e da Rádio Universitária. Diretor do Centro de Pesquisa em Teatro e formulador da teoria e do método Teatro Radical Brasileiro

Ricardo Guilherme arte e cultura

B. de Paiva: do cerrado para a terra da luz

Teatrálogo B. de Paiva promoveu transformações nas artes cênicas Brasil afora (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Teatrálogo B. de Paiva promoveu transformações nas artes cênicas Brasil afora

Em Planaltina, cidade-satélite de Brasília, núcleo de produção de grãos do Centro-Oeste, um acervo referente à História do Teatro Brasileiro do século XX, oriundo do teatrólogo B. de Paiva, hoje sob a guarda de um amigo, Jeová Sobreira, espera traslado das lonjuras de um sitio para algum centro de pesquisa vinculado à Secretaria de Cultura de Fortaleza. São milhares de unidades (livros, fotos, manuscritos alusivos à dramaturgia, programas de peças teatrais, cartazes, fitas de áudio e vídeo, jornais, revistas, reportagens sobre Dança, Circo, Ópera, Mímica, Teleteatro e Radioteatro), referências constitutivas da trajetória de gerações, inclusive do Ceará, que dali, das proximidades daqueles caminhos ondulantes e sinuosos da antiga Novacap, precisam voltar à mátria-cidade para onde B. de Paiva, voltou, como se nordestinado dissesse a si mesmo: o mundo é grande mas o Ceará é maior.


Vem de longe esse que tem no nome um José e uma Maria. É o José Maria Bezerra Paiva, o Zé Maria da dona Mazé do Seu Paivinha, o B . de Paiva, o Bê, menino antigo que no final dos anos 1940 soprava as falas para os atores do velho Conjunto Sacro-Dramático de Rufino Gomes de Matos. Assim, gerado na escuridão dos porões dos palcos e parido pelo ventre iluminado à meia luz do buraco do ponto, fez-se aprendiz de Dioniso, teatrólogo, teatrólatra, poeta, dramaturgo, encenador, historiador, ator, gestor, professor, articulador de movimentos, impulsionador de vontades, plural e singular.


Fundada em 1952 o grupo Teatro Experimental de Arte, com Haroldo Serra, Hugo Bianchi e Marcus Miranda. No Rio de Janeiro/RJ, de 1954 a 1957, assume funções administrativas e artísticas no Teatro Duse, criado por Paschoal Carlos Magno. Em 1960, durante o reitorado de Martins Filho, cria o Curso de Arte Dramática da Universidade Federal do Ceará e em 1965 instala o Teatro Universitário (UFC, 1965), iniciativas que revolucionam mentalidades, inclusive no âmbito da dança com a atuação da coreógrafa e bailarina Tereza Bittencourt, primeira professora de Expressão Corporal de Fortaleza.

Além de comandar o Theatro José de Alencar e implementar a moderna produção dos grupos Comédia Cearense e do Teatro Universitário, de 1960 a 1967, B. de Paiva dirige no Rio de Janeiro o Conservatório Nacional de Teatro (1968-1969), uma universidade (FEFIERJ, 1974-1977) e enseja a criação de uma outra, a Unirio. Durante a década 1970, B. lidera movimentos que regulamentam no Brasil não apenas as profissões cênicas, mas também o ensino universitário das artes.

A partir dos anos 1980, protagoniza filmes de Pedro Jorge de Castro e integra o elenco de teledramaturgias da Rede Globo de Televisão. Nos anos 1990, radicado no Distrito Federal, preside a Fundação Brasileira de Teatro/Faculdade de Artes Dulcina de Moraes e faz parte do corpo docente da Universidade de Brasília(UnB), além de coordenar projetos da Fundação Pró-Memória e, posteriormente, se tornar Secretário-Adjunto da Cultura.

No início do século XXI, após retornar à Fortaleza para gerir atividades da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Ceará, administra o Colégio de Direção Teatral do Instituto Dragão do Mar e atua como Presidente da Fundação Amigos do Teatro José de Alencar.

Atualmente, essa legenda viva, exilada em nossa cosmopolita província, retorna ao seu ponto de partida, lugar de tantos que aprenderam com ele. É preciso, pois, que continuem aprendendo a partir do acesso a esse seu legado de invenção e intervenção do teatro. Trata-se de um legado que sob o respaldo da tradição e da história aponta direções não apenas referenciar sua biografia específica mas a de inúmeros pioneiros, vozes fundantes no Brasil daquele universo de madeira, panos, cordas, roldanas e luzes, vozes de pessoas e personas que precisam ser resgatadas do planalto central, cenário que Niemeyer, o arquiteto-cenógrafo, construiu.

Que venham do cerrado para a terra da luz páginas e mais páginas, em tantos tomos, palavras e mais palavras da lavra de tantos bardos, poéticas de tantas éticas, tramas, dramas, lições de consciência, retrospectiva do muito que fomos, do muito que somos, do muito que precisamos vir a ser.

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