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Como eu caí em um golpe e como você pode evitar que isso aconteça
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Ricardo Moura é jornalista, doutor em Sociologia e pesquisador do Laboratório da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV/UFC)

Como eu caí em um golpe e como você pode evitar que isso aconteça

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Tipo Opinião

O que acontece quando um colunista de segurança pública cai em um golpe? Em primeiro lugar, ele se lamenta amargamente e vai atrás de cobrir o prejuízo. Na sequência, o episódio vira tema de sua próxima coluna. O fato me ocorreu no fim do mês de outubro, mas as consequências só foram percebidas, bem como o constrangimento, há duas semanas.

Munidos de informações que deveriam ser confidenciais, os criminosos me fizeram crer que eu estava pagando prestações atrasadas de um veículo quando na verdade estava apenas repassando dinheiro para um bando de estelionatários. Para conferir veracidade à interação, que se deu pelo whatsapp, até mesmo o contrato que assinei com a concessionária foi me mostrado, bem como a foto que fiz naquele dia e minha assinatura. Quem mais poderia dispor desses dados se não alguém que tivesse alguma relação com o negócio?

Há uma predisposição para que sejamos vítimas de golpes de maior ou menor complexidade. Nossa educação financeira nem sempre é feita de forma adequada. Você pode ter um doutorado e, mesmo assim, não possuir as habilidades devidas no que diz respeito à gestão de suas economias. Temos sérias dificuldades em planejar gastos e em poupar a fim de que possamos ter reservas que nos proporcionem maior segurança.

Dados da Serasa, de agosto deste ano, revelam que 71 milhões de brasileiros possuem dívidas que giram em torno de R$5 mil, na média. Nesse cenário, em que as contas do mês se equilibram como pratos nas mãos de um malabarista e que muitas pessoas não têm de onde tirar recursos para quitar suas dívidas, as predisposições mental e emocional não estão nas melhores condições para uma tomada de decisão mais racional. É o momento ideal para que os estelionatários se aproveitem dessa fragilidade.

A oportunidade de obter facilidades na forma como você pode solucionar problemas financeiros causa uma espécie de cegueira momentânea. Os alertas de que tamanha comodidade possa ser uma cilada são deixados de lado diante da perspectiva de se livrar de um incômodo que afeta várias dimensões da vida, não se restringindo apenas ao aspecto econômico.

Além disso, o pagamento via pix é um instrumento valioso para as pessoas de má fé por apresentar maior dificuldade de rastreamento que o pagamento feito por código de barras. A chance de quitar uma dívida atrasada por um valor menor, contudo, faz com que a gente não leve em consideração essas precauções.

De acordo com a Federação Brasileira de Bancos, os criminosos têm se aproveitado da intensa digitalização dos serviços e o crescimento exponencial das operações digitais para aplicar golpes na população. Para tanto, destacam-se nessa lista os crimes que usam a engenharia social, ou seja, que consistem na manipulação psicológica do usuário para que ele lhe forneça informações confidenciais, como senhas e números de cartões para os criminosos ou faça transações em favor das quadrilhas.

O comércio digital também é uma fonte vasta para a realização de golpes. Entre janeiro e outubro deste ano, 80 mil pessoas foram alvos de golpes quando tentavam comprar ou vender na internet. O prejuízo causado por esse tipo de ocorrência criminal é estimado em R$500 milhões. O Brasil está atrás apenas do México no que diz respeito ao número de vítimas de crimes digitais.

Em maio de 2021, foi sancionada a Lei 14.155, que prevê punições severas para fraudes e golpes cometidos em meios eletrônicos. O texto alterou o Código Penal Brasileiro para agravar penas como invasão de dispositivo, furto qualificado e estelionato praticados em meio digital, além de crimes cometidos com o uso de informação fornecidas por alguém induzido ao erro pelas redes sociais, contatos telefônicos, mensagem ou e-mail fraudulento.

O maior rigor da legislação não nos exime de tomar cuidados básicos. O primeiro, sem dúvidas, é promover uma profunda reorganização no modo como encaramos nossa vida financeira. Ter controle sobre os gastos não é uma vacina 100% segura contra possíveis golpes, mas nos coloca em uma condição psicológica melhor, sem tanta angústia e ansiedade, para lidar com esse tipo de abordagem. Uma segunda dica consiste em consultar pessoas próximas sobre supostas facilidades oferecidas. Confiar apenas no seu bom senso não é uma boa estratégia. Vale muito a pena obter uma segunda ou terceira opiniões sobre aquela oportunidade tão tentadora.

Sobre esse ponto, é importante aceitar que todos podemos ser enganados. A vergonha em se apresentar como "trouxa" faz com que silenciemos diante de tais casos. No entanto, quanto menos falamos sobre esse tipo de ocorrência mais favorecemos os golpistas. Essa pauta precisa estar sempre em discussão até para que o funcionamento de tais armadilhas seja bastante disseminado. Busque, ainda, saber a procedência do seu interlocutor. Consulte o gerente do banco, ligue para o escritório de cobrança ou fale com a pessoa que lhe vendeu o bem/serviço.

Sei que isso é um imenso desperdício de energia em uma rotina movimentada, mas lembre-se que tempo é dinheiro, ou seja, gastar um pouco de tempo com determinadas ações de precaução pode evitar que você perca dinheiro, na prática. A Febraban dispõe de um link com informações sobre diversas modalidades de golpe. Clique, acesse e saiba mais. A digitalização da vida é um caminho sem volta. Novas tecnologias simulam com perfeição a voz e a face humana desafiando os sistemas de controle e segurança. Muito tem sido feito para garantir que as transações econômicas ocorram da forma mais segura possível, mas cabe principalmente a nós zelarmos pela proteção de nossos bens e de nosso dinheiro. Que essa coluna possa servir de alerta.

Foto do Ricardo Moura

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