
Ricardo Moura é jornalista, doutor em Sociologia e pesquisador do Laboratório da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV/UFC)
Ricardo Moura é jornalista, doutor em Sociologia e pesquisador do Laboratório da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV/UFC)
Grandes cidades dos Estados Unidos vêm apresentando acentuada redução nos índices de violência letal. Mesmo com ressalvas de que a tendência possa vir a se inverter, criminologistas admitem que os números impressionam. Em uma entrevista ao site Slate, John Roman, pesquisador criminal do Centro Nacional de Pesquisa de Opinião da Universidade de Chicago, afirma que as estatísticas criminais remontam à década de 1960: “Nessas cidades, se você tem menos de 55 anos, este é provavelmente o momento mais seguro em que você já viveu. Isso é ótimo e deve ser comemorado”.
Mesmo sabendo que o Governo do Estado possui um corpo especializado remunerado se dedicando sobre o tema, a coluna lista algumas dessas ações como forma de contribuir para o debate público sobre segurança pública. Por óbvio, há diferenças significativas nas condições socioeconômicas e na dinâmica do tráfico entre Brasil e EUA, mas há aspectos em comum que podem vir a ser potencializados.
Em Baltimore e Detroit, há uma participação ativa da comunidade nos programas governamentais, com intervenções pontuais nos territórios com maiores registros de homicídios. Baltimore desenvolve uma ação conhecida como Estratégia de Redução da Violência em Grupo (Group Violence Reduction Strategy - GVRS, na sigla em inglês). Dentre as medidas adotadas destacam-se o foco na "dissuasão focada" em áreas de alta criminalidade. Polícia, assistentes sociais e líderes comunitários identificam pessoas em risco — vítimas ou autores de violência — e oferecem apoio, como tratamento para dependência química e ajuda profissional.
O programa conta com um orçamento anual de US$ 7,3 milhões financiado por recursos municipais, estaduais, federais e filantrópicos. A prefeitura mantém uma parceria com uma organização que trabalha com jovens em situação de risco, oferecendo treinamento em terapia cognitivo-comportamental e oportunidades de emprego.
Para quem gosta de séries policiais, Baltimore era a cidade do seriado The Wire, que abordava o cotidiano de uma equipe de policiais lidando com a criminalidade em meio à burocracia municipal, à politicagem e ao tráfico. A cidade, cuja população é estimada em 565 mil habitantes, registrou cinco homicídios em abril deste ano, o menor número para um mês desde 2012.
Em Detroit, o protagonismo cabe ao Programa ShotStoppers, que é financiado pela Lei do Plano de Resgate Americano, com US$ 700 mil anuais por grupo comunitário. O Force Detroit é o grupo mais bem-sucedido, atuando com "mensageiros confiáveis", ou seja, ex-autores ou vítimas de violência que mediam conflitos antes que se tornem violentos. Além disso, são oferecidos suportes básicos (moradia, alimentação, emprego) para reduzir fatores de risco. Os homicídios e tiroteios caíram 72%. A polícia reconhece o programa como uma "camada adicional" na redução de crimes.
Em San Antonio, há um plano de redução de crimes violentos pensado em três etapas. A primeira está em curso. Trata-se de um policiamento em pontos críticos de áreas de alta criminalidade em grades de 300m x 300m, com policiamento visível em horários de pico. Policiais em viaturas com luzes piscantes são posicionados nesses locais por 15 minutos. A cada 60 dias, as grades são avaliadas e os recursos policiais são transferidos para cobrir as cerca de 35 áreas mais perigosas.
O resultado foi uma redução de 37% nos crimes violentos em áreas de alta criminalidade em comparação com o ano anterior, uma melhoria que os criminologistas e a polícia acreditam ter contribuído para uma redução geral de 7,3% nos crimes violentos na cidade em 2023.
As duas etapas seguintes são a análise de causas ambientais (iluminação, lixo) e sociais (falta de serviços, por exemplo) da criminalidade e a dissuasão focada, com foco na identificação de indivíduos que possuem alto risco de envolvimento em crimes violentos para oferta de recursos sociais.
Há alguns desafios que perpassam os programas, como a permanência da desconfiança na polícia, a sustentabilidade financeira das medidas com a chegada do Governo Trump e a percepção pública que nem sempre traduz redução de homicídios como incremento na sensação de segurança.
O Governo Elmano divulgou, na última quarta-feira, dia 14, que o Ceará havia encerrado o primeiro quadrimestre de 2025 com redução de 18,3% nos Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) e de 26,8% nos Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVPs), na comparação com o mesmo quadrimestre de 2024. Os resultados atingiram as metas estabelecidas do primeiro ciclo do Programa de Metas Integradas de Segurança Pública (Misp).
Os discursos dos gestores enfatizaram, sobretudo, os investimentos feitos em efetivo e equipamento. É um primeiro passo, mas para que haja uma redução efetiva na criminalidade é preciso ampliar a participação da sociedade nesse processo. E isso diz respeito a não concentrar os gastos do setor apenas nas forças de segurança. Voltarei ao assunto.
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