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James Webb: O telescópio com que vamos olhar como nunca para cima
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Romário Fernandes é professor de astronomia no Colégio Militar do Corpo de Bombeiros do Ceará e editor do canal AstronomicaMENTE. É especialista em ensino de astronomia, licenciado em matemática e bacharel em comunicação social. Atua desde 2017 nas áreas de ensino e divulgação da astronomia. É oficial do Corpo de Bombeiros

Romário Fernandes ciência e saúde

James Webb: O telescópio com que vamos olhar como nunca para cima

Colunista traça paralelo entre o lançamento do telescópio James Webb e sucesso do filme "Não Olhe Para Cima", da Netflix
Telescópio espacial James Webb promete trazer diversos avanços científicos (Foto: Nasa / Divulgação)
Foto: Nasa / Divulgação Telescópio espacial James Webb promete trazer diversos avanços científicos

O lançamento do telescópio espacial James Webb no Centro Espacial Guianense coincidiu com o lançamento mundial do filme Não Olhe Para Cima, na Netflix. É curiosa a convergência de datas entre as duas decolagens tão diferentes quanto bem sucedidas: a de uma sátira contundente à nossa predisposição para fechar os olhos diante de novos problemas em prol da manutenção do status quo, da conveniente sensação de que "está tudo bem"; e a de uma ferramenta desafiadora, arrojada e sem precedentes em sua capacidade de nos ajudar a enxergar longe o suficiente para solucionar velhos e complicados problemas! É, aliás, paradoxal que vivamos numa sociedade onde há tantas pessoas que se fazem de cegas às evidências mais claras para se manter apegadas às suas crenças, doutrinas e ideologias, ao mesmo tempo em que nos tornamos capazes de ver o Universo, de forma objetiva, com uma profundidade inédita na história da humanidade.

Se olhar para cima foi uma questão instintiva e diferencial para o ser humano desde os primórdios de sua existência — já que dependemos exclusivamente da luz que vinha do alto, por centenas de milhares de anos, para viver, andar, comer e beber — as possibilidades que o James Webb abre para o nosso poder de entender o que se vê lá são até difíceis de dimensionar. Não se trata mais de atender às nossas necessidades básicas: trata-se agora de compreender com uma precisão inimaginável há uma década os processos de formação das primeiras estrelas, dos primeiros buracos negros e, por tabela, das primeiras galáxias do Universo — já que, ao que tudo indica, foi nessa ordem que essas estruturas fundamentais surgiram. Sim, estamos na iminência de nos tornar capazes de enxergar o Universo quando ele tinha menos de 2% da sua idade atual, mas ainda há quem jure de pé junto que tudo não passa de uma conspiração conjunta da Nasa, dos Governos, dos Illuminati e da Nova Ordem Mundial para nos enganar...

Aliás, voltando ao filme, dois elementos importantes da trama envolvem problemas que o James Webb pode nos ajudar a solucionar. O primeiro deles, claro, é a identificação antecipada de cometas e outros objetos potencialmente perigosos para a Terra. Como o telescópio é especialmente adaptado para ver a radiação infravermelha, ou seja, aquela com comprimento de onda maior do que o vermelho e que os nossos olhos não interpretam como luz, ele terá uma altíssima capacidade de detectar objetos "frios", como cometas e asteroides. Inclusive um dos projetos de pesquisa já aceitos e com tempo de utilização agendado para o novo equipamento envolve o estudo de diferentes tipos de cometas.

O segundo elemento é a descoberta de planetas potencialmente habitáveis fora do Sistema Solar. Assim como os cometas, os planetas, independente da luz que possam refletir de suas estrelas centrais, emitem radiação principalmente na faixa do infravermelho. A sensibilidade do James Webb vai abrir horizontes inteiramente novos para o estudo das atmosferas desses planetas distantes, que chamamos de exoplanetas. Até o momento, temos quase cinco mil objetos desse tipo reconhecidos. Quem sabe em quantas vezes esse número crescerá com a contribuição do Webb? E, tão importante quanto: quão mais detalhadamente seremos capazes de caracterizar esses planetas? As perspectivas são mais do que promissoras...

Por essas e outras — muitas outras — é que não devemos perder o hábito multimilenar de olhar para cima! De desbravar, no alto, tudo aquilo que pode ser desvelado pelo mero exercício de observação a olho nu. De se permitir o incremento substancial que um bom binóculos ou um pequeno telescópio podem oferecer nessa empreitada. E, para além da prazerosa prática da astronomia observacional, de se manter em sintonia com as descobertas e os avanços cada vez mais incríveis da pesquisa científica. Essa mesma pesquisa que nos permitiu chegar até aqui melhores do que nunca. E que há de nos levar ao infinito, a despeito da gritaria do negacionismo que insiste em se servir dos frutos daquilo que nega para continuar negando...

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