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Por que o inverno do Ceará começa no verão do hemisfério sul
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Romário Fernandes é professor de astronomia no Colégio Militar do Corpo de Bombeiros do Ceará e editor do canal AstronomicaMENTE. É especialista em ensino de astronomia, licenciado em matemática e bacharel em comunicação social. Atua desde 2017 nas áreas de ensino e divulgação da astronomia. É oficial do Corpo de Bombeiros

Romário Fernandes ciência e saúde

Por que o inverno do Ceará começa no verão do hemisfério sul

Quadra chuvosa cearense ocorre em pleno verão na região do planeta onde se encontra o Estado
Semana deve apresentar céu claro em todo Estado variando para parcialmente nublado
 (Foto: André Bloc)
Foto: André Bloc Semana deve apresentar céu claro em todo Estado variando para parcialmente nublado

Todo cearense sabe que o início do ano é época de chuva! Ou, pelo menos, assim a gente espera que seja. Afinal, um bom inverno é essencial para evitar os prejuízos da seca. É uma série de problemas sociais e econômicos em todo o Estado que uma boa quadra invernosa ajuda a contornar.

Só tem uma questão curiosa nisso: é que dia 21 de dezembro é o solstício de verão na banda da Terra onde o Ceará fica. Isso quer dizer que nesse dia começa o verão em toda a porção do planeta localizada abaixo do Equador. A estação se estende até 20 de março, quando tem início o outono, que vai, por sua vez, até 20 de junho. E só então, quando já ficou pra trás a nossa quadra chuvosa, é que começa o inverno propriamente dito na metade da Terra onde ficamos. Por que será que o nosso inverno é tão deslocado do inverno do nosso hemisfério?

Chamamos de estações aos conjuntos de características climáticas que mudam, ao longo do ano, no mesmo lugar da Terra. Só faz sentido falar de um inverno, de um verão, de um outono e de uma primavera, como diferentes estações, quando a gente percebe mudanças regulares nas condições de temperatura, umidade e velocidade dos ventos de uma região ao longo do tempo.

De modo geral, aquele cenário de um verão quente e úmido seguido por um outono mais ameno, com folhas ao chão, sucedido, por sua vez, por um inverno frio e seco, que precede, por fim, uma primavera de temperatura agradável e cheia de flores é típico das regiões da Terra mais afastadas do Equador.

Como a Terra gira ao redor do Sol sempre inclinada para a mesma direção, às vezes a "metade de baixo" do planeta está mais exposta à luz e ao calor do Sol. Outras vezes, é a "metade de cima" que está mais voltada para o Astro-Rei. Em outros momentos, a incidência da radiação solar se dá bem na linha do Equador e ambos os hemisférios estão igualmente ensolarados.

Quanto mais longe se está do meio da Terra, mais drásticas são as mudanças climáticas ao longo do ano e mais lógico é pensar nas quatro estações. Aqui para nós, porém, que vivemos apenas ligeiramente abaixo da cintura da Terra, essas variações são discretas. Se dependesse só da variação da incidência da luz solar, teríamos praticamente o mesmo clima quente o ano inteiro.

O que nos salva do marasmo infernal é o providencial resfriamento periódico das águas do Oceano Pacifico localizadas aqui mais perto da América do Sul. O fenômeno, chamado de La Niña, forma abundantemente as chamadas "frentes frias" capazes de reduzir as temperaturas e causar chuvas em boa parte da Região Nordeste do Brasil.

Como é um conjunto de características climáticas singular, que contrasta com o clima mais comum por aqui, o único período do ano em que temos chuvas abundantes e uma temperatura mais amena acabou se tornando conhecido como inverno, mesmo que nada tenha a ver com o inverno do hemisfério sul.

Se na época em que o hemisfério norte é que está mais voltado para o Sol, ou seja, quando é verão lá e, por tabela, inverno aqui, o nosso Ceará continua tão quente como sempre, nada mais justo do que darmos o nome da estação fria ao período do ano em que realmente temos um alívio nas altas temperaturas típicas das nossas terras. Independente do "inverno oficial" do hemisfério sul da Terra.

Foto do Romário Fernandes

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