Planetas ovais e outros objetos estranhos do Universo
Romário Fernandes é professor de astronomia no Colégio Militar do Corpo de Bombeiros do Ceará e editor do canal AstronomicaMENTE. É especialista em ensino de astronomia, licenciado em matemática e bacharel em comunicação social. Atua desde 2017 nas áreas de ensino e divulgação da astronomia. É oficial do Corpo de Bombeiros
Planetas ovais e outros objetos estranhos do Universo
Formatos ovais, ainda que raros, não são exatamente desconhecidos entre os corpos celestes. Haumea, o planeta-anão, o WASP-103b, outro planeta não-esférico, e o 486958 Arrokoth, em formato de 8, são alguns desses casos
Recentemente ganhou espaço na mídia a descoberta de um planeta com forma de ovo localizado a pouco mais de 1.500 anos-luz da Terra. Estima-se que esse objeto seja sensivelmente mais pesado do que Júpiter, que, por sua vez, é mais pesado do que todos os outros planetas do nosso sistema solar juntos. Então, estamos falando da descoberta de um ovo cósmico de proporções dignas de um enredo do Universo Cinematográfico Marvel!
Antes de tudo, é preciso reconhecer que esse formato é inusitado. A regra no Universo é que todo objeto que alcança um certo tamanho crítico, de algumas centenas de quilômetros de diâmetro, tende a se tornar quase esférico. A causa disso é a nossa conhecida gravidade. Como ela é um efeito da concentração de massa, quanto mais massa concentrada numa certa região do Universo, mais gravidade haverá ali. E como a gravidade se exerce com a mesma intensidade em todas as direções, todo objeto que ultrapassa o tamanho crítico acaba por sofrer o efeito da própria gravidade, se ajustando, com o passar das eras, ao formato aproximado de uma bola.
De forma que objetos claramente não-esféricos com milhares de quilômetros de diâmetro, a exemplo desse planeta chamado WASP-103b, são bastante incomuns. Porém não são inéditos. Aqui mesmo no sistema solar temos um planeta-anão chamado Haumea exatamente do mesmo formato do WASP-103b. Claro que, nesse caso, trata-se de um "ovo" bem menor. Haumea é um vizinhos de Plutão mais ou menos do tamanho dele, que é, por sua vez, bem menor do que a Lua. Mas esse fato serve para ilustrar que formatos ovais, ainda que raros, não são exatamente desconhecidos entre os corpos celestes. Principalmente tendo em conta o fato de haver mais de uma causa possível para a existência de planetas de formato irregular.
No caso de Haumea, verifica-se uma rotação, aquele giro em torno do próprio eixo, extremamente rápida. Haumea precisa de menos de quatro horas para completar uma volta em torno de si. Nenhum objeto de tamanho relevante do Sistema Solar leva tão pouco tempo para finalizar um giro. A explicação mais aceita para isso está numa possível colisão muito forte, que, em algum momento indefinido do passado, quebrou Haumea original em vários pedaços menores e fez com que o pedaço maior adquirisse uma velocidade de rotação tão alta que acabou deixando-o alongado. Ou seja: o ovo cósmico mais próximo de nós deve seu formato ao excesso de velocidade que adquiriu após um grande impacto. Suspeita-se, inclusive, que outros corpos menores remanescentes desse impacto também tenham adquirido o mesmo formato, mas há necessidade de mais investigações para confirmar isso.
O caso de WASP-103b é completamente diferente. Trata-se de um planeta gigante gasoso localizado vinte vezes mais perto de sua estrela do que Mercúrio se encontra do Sol. Nesse caso, a deformidade que gera a forma de bola de futebol americano se deve a essa proximidade excessiva entre os dois astros.
Em linhas gerais, a distância entre ambos é tão pequena e a atração gravitacional da estrela tão grande, que o planeta gasoso acaba esticado na linha equatorial, mais próxima da estrela, por assim dizer, e comprimido na linha vertical. É uma versão incrivelmente mais poderosa do efeito de maré causado pela Lua sobre a Terra.
Se se aproximasse ainda mais de sua estrela, WASP-103b acabaria se fragmentando em milhões de pedaços, que formariam um anel em torno da estrela. As evidências, porém, sugerem que o planeta está na verdade se afastando pouco a pouco, o que tende a reduzir a deformação com o passar do tempo.
E já que o assunto é objetos de formato estranho, não poderíamos deixar 486958 Arrokoth passar em branco. Esse vizinho de Haumea e Plutão dotado de nome estranho tem um singular formato de 8. A descoberta, feita quando a sonda New Horizons passou perto do objeto, após fazer imagens de Plutão e de sua lua principal, chamou a atenção pela simetria dos dois pedaços colados de rocha e gelo. Se o formato não era também inédito, as formas elegantemente arredondadas das duas metades são únicas entre os objetos desse tipo detectados claramente até hoje. Acredita-se que, nesse caso, dois objetos diferentes acabaram se aproximando tão vagarosamente ao longo do tempo que terminaram por se unir gravitacionalmente sem se destruir.
Bom, ficamos por aqui, lembrando que tão incrível quanto a diversidade de objetos do Universo é a nossa capacidade cada vez maior de detectá-los e de criar modelos explicativos consistentes para justificar por que eles são como são!
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