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Anéis descobertos em planeta-anão intrigam astrônomos
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Romário Fernandes é professor de astronomia no Colégio Militar do Corpo de Bombeiros do Ceará e editor do canal AstronomicaMENTE. É especialista em ensino de astronomia, licenciado em matemática e bacharel em comunicação social. Atua desde 2017 nas áreas de ensino e divulgação da astronomia. É oficial do Corpo de Bombeiros

Romário Fernandes ciência e saúde

Anéis descobertos em planeta-anão intrigam astrônomos

Existência de anéis ao redor de Quaoar, planeta-anão com um termo do tamanho da Lua, muda entendimentos sobre astronomia
Presença de anéis ao redor do planeta-anão Quaoar desafiam conhecimentos estabelecidos da astronomia (Foto: Divulgação / ESA)
Foto: Divulgação / ESA Presença de anéis ao redor do planeta-anão Quaoar desafiam conhecimentos estabelecidos da astronomia

Os anéis planetários são estruturas deslumbrantes que compartilham a mesma origem de boa parte das luas: pedaços de gelo e pedregulhos de tamanhos variados, remanescentes da formação do planeta, vão se distribuindo em órbitas estáveis no entorno dele até se fixarem numa trajetória própria. Se os detritos vão se juntar pouco a pouco até virar luas ou vão se manter separados, como ocorre nos anéis, vai depender da distância em que eles se encontram do planeta.

Se estiverem muito perto, dentro do chamado Limite de Roche, a força gravitacional do planeta impede a agregação do material, que, caminhando lado a lado, acaba por originar anéis. Se estiverem além do Limite de Roche, a interação gravitacional entre as pedrinhas supera a força do planeta, e elas acabam se agregando ao longo de milhões de anos até originar uma lua... Ou pelo menos era isso que os astrônomos viam acontecer sempre, até alguns dias atrás!

Uma descoberta publicada no começo do mês, feita por uma equipe de quase 60 cientistas de 14 países, chefiados pelo pesquisador brasileiro Bruno Morgado, do Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), revelou a existência de anéis em torno de Quaoar, um pequeno planeta-anão — localizado ao dobro da distância de Urano —, que possui menos de um terço do tamanho da Lua. Além do fato incomum de um objeto tão pequeno possuir anéis, o que mais chamou a atenção dos pesquisadores foi o fato inédito de esses anéis estarem localizados fora do Limite de Roche. Muito fora, na verdade: mais de duas vezes mais distantes.

Até onde se soubesse, para além do Limite, onde a gravidade do planeta é mais fraca, nada deveria impedir que o pedregulho espacial originasse luas. Porém, evidentemente, alguma coisa impediu os anéis recém-descobertos de Quaoar de se aglutinarem. Descobrir o que foi é o desafio que essa descoberta impõe.

A bem da verdade, hoje sabemos que anéis são algo bem mais comum do que se supunha por séculos, quando apenas as majestosas estruturas que cercam Saturno eram conhecidas. Com o passar do tempo, fomos descobrindo que todos os demais planetas gasosos do Sistema Solar também ostentam esse tipo de artefato cósmico, ainda que sejam incomparavelmente mais discretos. A ideia que se estabeleceu era a de que anéis só poderiam se estabelecer ao redor de planetas gigantes, pelo menos quatro vezes maiores do que a Terra.

Só nos últimos anos descobrimos os primeiros anéis no entorno de objetos rochosos. Tanto o planeta-anão Haumea, localizado perto de Plutão, quanto o asteroide Chariklo, localizado entre Saturno e Urano já se revelaram possuidores desse tipo de estrutura. Porém, em todos os casos, os anéis estão localizados dentro do Limite de Roche.

Se é a presença da pequena lua Weywot, a poucos milhares de quilômetros do anel, quem impede a formação de uma nova lua naquela região ou algum outro fator ainda ignorado é o que deveremos descobrir em breve. Afinal, uma descoberta dessas, que quebra expectativas baseadas em um modelo bem estabelecido, certamente vão mobilizar um batalhão de pesquisadores a estudar o sistema de Quaoar, em busca de respostas. Aguardemos!

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