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Sunny
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Sunny

Tipo Crônica

A Mimi Rocha

Dia desses, não podendo mais resistir a antigos desejos, dei-me de presente uma guitarra elétrica. Uma Strinberg STS-100, sunburst, modelo Stratocaster. Cansado, desde a infância, de visitar lojas de instrumentos musicais e sair de lá de mãos abanando e estimulado pelo meu parceiro musical Assis Ximenes, decidi-me por esta pequena ousadia. Em poucos minutos, o diligente vendedor embalava a pequena maravilha para felicidade do meu coração. Naquele momento, um velho sonho se realizava. Levei-a ao meu escritório, onde uma caixa de som já a aguardava. Foi só ligá-la e esquecer do tempo. Quando olhei para o relógio, quase duas horas haviam se passado. Nada como brinquedo novo e, no caso, há muito ansiado. Ela agora está ali, no rack, rindo para mim...

Enquanto a namoro, reflito sobre o meu caso com o instrumento e alguns dos seus mestres. Jimi Hendrix, Eric Clapton, Jimmy Page, Keith Richards, Alvin Lee, Carlos Santana e outras feras do rock’n’roll com seu belo desfile de guitarras. Os timbres delicados de Barney Kessel, Joe Pass, Kenny Burrell, Wes Montgomery, John McLaughlin, Toninho Horta e Django Reinhardt no jazz. B. B. King, Elmore James, Freddie King, Hubert Sumlin, Albert King e Stevie Ray Vaughan arrasando no blues. Até hoje trago na cabeça seqüências inteiras de riffs e acordes. Acho que passei a vida toda como um devoto da guitarra e de guitarristas. Mansa como um gatinho, tremenda como um vulcão, quão dessemelhante ela pode ser. Assim como a gente, assim como a música.

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Ocorreu-me batizá-la, dar-lhe um nome. Ora, se o B. B. King tem a sua Lucille e o Eric Clapton trata a dele por Blackie, pensei em chamar a minha de Sunny, em razão do seu bronzeado e em homenagem à bela canção de Bobby Hebb. De repente, começaram a chover gracejos de todos os lados: “Te cuida, Luizinho Magalhães e Banda!”, “Teu show vai ser no Castelão, né? O PV é tão pequeno...”, “Vai estrear a bicha no Raimundo do Queijo, no Bar do Nonato ou na Embaixada da Cachaça?”. A canalha, malvada, não perde a oportunidade de ferroar os outros. Nada como, no meio de uma tarde pandêmica cheia de trabalho e chatice, dar uma meia-trava, tomá-la nos braços e entoar algumas canções. Sim, tens razão, Caetano: “Como é bom poder tocar um instrumento”.

Os do contra, os Insatisfeitos de Albuquerque, não poderiam deixar de se manifestar: “Devia ter comprado uma Fender, uma Les Paul, uma Gibson Birdland, uma Flying V e não essa aí”. Meus ouvidos, abertos para os sons que tiro da minha guitarra, estão moucos para esse tipo de conselho. Há um mês, fez 50 anos que Jimi Hendrix nos deixou. Ainda hoje fico de queixo caído com as suas performances no Monterey Pop e em Woodstock. Se ainda estivesse vivo, que música estaria fazendo? Que desafios musicais estaria enfrentando? Nunca houve, não há e jamais haverá outro igual a ele. Súbito, noto que Sunny está triste, bluesy. A menção ao astro a tocou. Valeu, George: “Eu olho o mundo e noto que ele está girando enquanto minha guitarra suavemente chora”.

Foto do Romeu Duarte

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