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A mãe de todos os males
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

A mãe de todos os males

Tipo Crônica

Deu no rádio: no Ceará, os 10% mais ricos de sua população têm no bolso 45,7% de todo o valor produzido pelos trabalhadores. Os dados são de 2019, mas evidenciam uma desigualdade socioeconômica que vem crescendo desde 2012. Em relação a 2018, todos os segmentos sociais registraram perdas, menos a turma do andar de cima, com 3,8% de subida. Ou seja, torna-se cada vez mais largo e profundo o abismo que separa os cearenses abonados dos cearenses pobres. Com certeza, esse quadro tem como uma de suas razões a débil estrutura espacial do nosso estado: uma capital com 2,7 milhões de habitantes, uma região metropolitana com 21 municípios e apenas dois polos econômicos fortes (Crajubar e Sobral). O nome da peste: macrocefalia urbana.

Em meio a essa metropolização descapitalizada (grato, Jorge Hardoy), algumas perversidades: os mais lascados, que concentram somente 0,8% da renda estadual, sobrevivem com míseros R$ 129,00 por mês, R$ 43,00 por dia. Noves fora as exceções de praxe, falta educação de qualidade e infraestrutura, o que é fundamental para garantir o desenvolvimento. Não há políticas firmes que ofereçam oportunidades para crianças e jovens de todas as classes sociais e faixas de renda. A miséria ataca de forma mais severa as mulheres negras ou pardas. Quanto ao assunto, a situação em Pindorama não difere da que se vê nesta Taba de Alencar. O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo e o Ceará ocupa o pódio do mais desigual do Brasil. E sem os R$ 600,00, e aí?

A pandemia veio coroar um quadro sombrio: economia em queda livre, 14% da população economicamente ativa desempregada, o país voltando ao mapa mundial da fome e caindo para o 12º lugar do ranking econômico planetário (já fomos a 6ª economia da Terra nos governos de quem você sabe bem), além de se tornar um pária por motivo de sua burra e desastrosa diplomacia de pólvora molhada. Ora, maricas! Como diz Amartya Sen, Prêmio Nobel de Economia de 1998 e um dos formuladores do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o avanço de um país não é mais medido apenas pelo crescimento de sua economia, mas pelo modo como distribui os recursos gerados pelo aumento de sua riqueza. Duvida? Olá, caro bodegueiro, o que você acha do fim do auxílio?

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Os incansáveis e teimosos neoliberais, com suas receitas econômicas que até hoje não deram certo em nenhum lugar do planeta, acreditam piamente que a solução para o problema é privatizar tudo o que é público. Partem do ponto de que o ente privado sempre oferecerá um serviço melhor do que aqueles oferecidos pelos barnabés. Certamente não temos do que nos queixar quanto aos préstimos das nossas concessionárias de energia elétrica, operadoras de internet e empresas de telefonia, não é mesmo? Mediando tudo, as generosas agências reguladoras, prova do conluio entre os dois lados da moeda. O pobre Amapá é um exemplo disso tudo: tem quatro hidrelétricas e está no breu por causa de uma empresa espanhola, menos os condomínios de luxo de Macapá.

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