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Sinais de mudança
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Sinais de mudança

Enquanto o (des)governo derrete feito gelo ao sol, ferido até a medula por seu negacionismo negocionista (ou negocionismo negacionista, como queiram), e a rejeição popular ao (des)presidente atinge níveis que inviabilizam até a sua eleição para síndico do Condomínio Vivendas da Barra, algumas mudanças no imprevisível comportamento da esquizofrênica sociedade brasileira já podem ser percebidas. As últimas manifestações de rua, imensas, resgataram dois queridos símbolos nacionais que haviam sido sequestrados pela horda bolsomínion: a bandeira do Brasil e a camisa da nossa seleção de futebol. Não se trata, claro, de ostentar um ufanismo piegas e sim de mostrar que esses emblemas pertencem aos filhos de Pindorama e não somente a uma corriola...

Por falar nisso, novos animais, aliás, velhos animais, procedendo de novas formas, surgem na arrasada floresta brazuca. Os recém arrependidos estão por aí, aos montes, misturando suas lágrimas de remorso ao álcool nos bares, não sem exibir, aqui e ali, seu farisaísmo. Dia desses, um deles, rosto transtornado, pegou-me pelo braço e disse: "Todo político é ladrão, é tudo puta". "Sentindo-se culpado pelo voto, doçura?", devolvi-lhe. Acusar a política de ação criminosa é a resposta mais imediata do reacionário e do isentão, irmãos siameses. Outra figura asquerosa é o sommelier de vacina, o tal que trata os imunizantes como itens de consumo, vinhos, por exemplo, mas de qualidades diferentes. Com seu gesto cringe (aí dentro, Guarany!), só contribuem para atrasar a vacinação.

Se os personagens anteriormente citados representam uma debandada da nau bolsonarista, pelo lamento quanto ao sufrágio desperdiçado e, vá lá, o aceite da voz da ciência, mesmo assim há aqueles renitentes em achar que o mau passo dado é o certo e que o resto está marchando errado, tais como os doidinhos e doidinhas do cercadinho e a milícia robótica da internet. Os primeiros têm como ídolo a Velhinha de Taubaté, personagem criada por Luís Fernando Veríssimo, tida como a última pessoa no país que acreditava no governo. Cada vez mais minguando em número, ainda sentem orgasmos por ter a cara desmascarada melada pelos perdigotos lançados pelo seu "mito" em suas muitas bravatas mentirosas. Os últimos, ai, ai, os últimos são os últimos...

Apesar dos pesares, fareja-se no ar um cheiro de esperança. Cansado de 30 meses e 12 dias de destruição, irresponsabilidade, genocídio e corrupção e amargando uma economia em queda livre e um desemprego assassino, além de uma pandemia que lhe ceifou até agora quase 530 mil almas, nós, o povo deste país, talvez pelo analfabetismo estrutural e/ou por um sebastianismo incorrigível, só aprendemos, parece, na base da porrada. Nem 21 anos de uma cruel ditadura militar foram-nos suficientes para compreender que candidato que tem como programa governamental fazer arminha com a mão é para ser escorraçado. Súbito, uma canção do Chico invade a cena: "Apesar de você, amanhã há de ser outro dia". Quantas vezes mais iremos cantar esses versos?

Foto do Romeu Duarte

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