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Touro de ouro, ouro de tolo
Foto de Romeu Duarte
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Touro de ouro, ouro de tolo

Tipo Crônica

Aos colegas e amigos paulistanos Hugo Segawa e Rodrigo Queiroz

Tão rápido quanto chegou, foi-se o touro dourado. Implantado com pompa e circunstância à frente da B3 paulistana, no miolo do Triângulo Histórico da cidade de São Paulo e em pleno cuore financeiro da metrópole, mostrava-se feroz na sua posição de ataque com os chifres abaixados, principalmente para os muitos abestados ao seu redor, às voltas com suas selfies. É bem verdade que, no dia da sua instalação, as análises econômicas prognosticavam que o tal deus Mercado cairia 12,9% neste ano no Brasil, colocando o tal bovino na condição de carne de terceira. Réplica mal ajambrada do coleguinha cartão postal de Wall Street, em Noviorque (como dizia Paulo Francis), é apenas uma homenagem à cafonice, à sabujice e ao mau gosto do bando do posto ipiranga.

Curioso quanto aos símbolos, recorri à mãe dos burros cibernéticos, a internet, para me ilustrar quanto à figura. Nos horóscopos ocidental e chinês, o signo de Touro caracteriza-se pela operosidade e pertinácia, além da teimosia incomum. Isso talvez explique a obstinação dos cegos que ainda defendem o capitalismo, sistema que é capaz de incinerar a si mesmo para voltar das cinzas ainda mais cruel. Na meca capitalista ianque, diz-se que dá sorte massagear os testículos do fornido ruminante. Na terra de Adoniran Barbosa, perguntaram a um sujeito o que fazia encostado na taurina estátua, já coberta de pichações: "Ôrra, meu, tô esperando o pessoal do açougue chegar. Talvez sobre algum osso desse bicho aí preu fazer uma sopa, tá ligado?". Quem tem fome, tem pressa, mano...

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Parafraseando o Pasquim, tal como os vinhos, as metáforas, ao irem de um lugar a outro, desandam. Se na Bolsa de NY o marruá de lá significa riqueza e prosperidade, seu clone daqui tornou-se o emblema do desemprego, da ruína da economia, da carestia e da falta do de comer. É preciso muita hipocrisia, mau caratismo ou parvoíce, ou tudo isto junto, para, na situação vexaminosa em que Pindorama se encontra, achar que um touro com suas bolas douradas, porém castrado de nascença, portanto um boi, pudesse, com sua aparência, recuperar a imagem do Brasil no mundo. A fumaça das nossas florestas, as balsas dos garimpeiros no Rio Madeira, a matança dos nossos índios, entre outros crimes perpetrados pelo (des)governo, abateram o vil boi mandingueiro.

Ironicamente, através da Lei Cidade Limpa, foi o semovente imóvel retirado do seu lugar e levado para um depósito. Embalado e amordaçado, içado por um guindaste, seus mugidos inaudíveis talvez só foram ouvidos e compartilhados pelo escultor que o concebeu. A cena me fez lembrar de Moisés, ao retornar do Monte Sinai com as duas tábuas dos Dez Mandamentos (na descida, diz-se, o patriarca hebreu se desequilibrou, deixando cair uma terceira no precipício...), quando deu de cara com o povo que havia tirado do Egito adorando um bezerro de ouro, o que o fez pirar na batatinha e mandá-lo tomar onde as patas tomam. Estranho esse tesão das pessoas em venerar ídolos de barro, no caso de ouro ou banhados a. Para a besta, a cenoura é o que a faz seguir em frente.

Foto do Romeu Duarte

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