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Bloody bird
Foto de Romeu Duarte
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Bloody bird

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Tenho acompanhado com espanto e indignação, como todo mundo, os absurdos casos de ataques terroristas a creches e escolas no Brasil. Nunca antes na história deste País houve algo assim. O que parecia ser algo próprio da cultura e do modo de vida ianques, cuja colonização se deu à base de ovos com bacon e Colt 45 (grato, Paulo Francis), o que explica seus Columbines da vida, está se tornando infelizmente algo banal por aqui. O bolsonarismo, que acha que o que é bom para os EUA (leia-se trump) é bom para o Brasil, é o responsável direto pelo presente estado de coisas por ter gerado essa maligna devoção à raiva, à violência e ao preconceito que já alcança nossas crianças e jovens. O terror circula e quem vai à aula não sabe mais se voltará para casa...

As redes sociais, com sua capilaridade na comunidade, é terreno fértil para esse odioso tipo de prática. Nossos garotos e garotas, na verdade meninos e meninas de granja (grato, Aírton Monte), criados à frente do computador e de olho grelado na internet e nos games barra-pesada, são presas fáceis dos criminosos. Parafraseando Nelson Rodrigues, a cibernética matou o quintal. Aqui para nós: o que esperar de uma pessoa de frágil condição mental, que nada sabe do mundo e que passa horas e horas comandando assassinatos virtuais nas telas? Os pais, assoberbados com as duras tarefas relativas ao sustento da família, são ausentes. E aí o mal se alastra feito peste. Aliás, a covid não só matou muita gente como também devastou muito cérebro por aí...

Mas o que me deixa mais irado é a cara-de-pau de alguns donos de redes sociais que, sob a égide da tal "liberdade de expressão", expõem e mantêm fotografias dos assassinos e dos pequenos e pequenas liquidadas nas suas sangrentas páginas. Esses magnatas de excremento (obrigado, Dona Chica Valente, minha querida e saudosa mãe), não satisfeitos em celebrar a aliança perigosíssima para a raça humana entre o capitalismo e a robótica, que tem surrupiado postos de trabalho e mandado seus antigos ocupantes para a rua da amargura, ganham, com a maior desfaçatez, rios de dinheiro com a exibição dos facínoras e dos trucidados, quando não das cruentas cenas de extermínio. Um deles, o senhor do pássaro azul, fez do bicho uma ave de rapina. Canalha!

Aos poucos, com lentidão, ainda atordoados com o que tem ocorrido, o povo e os governos se movimentam no sentido de resolver esse terrível problema de uma sociedade cada vez mais doente. Para sempre lembremo-nos de que isso faz parte do legado de uma administração comprometida até o pescoço com a morte e a corrupção. Enquanto espero o táxi na porta da Escola de Arquitetura da UFC, vejo um grupo de crianças e adolescentes caminhando para a escola. De repente, um estalo: o conhecimento, aquele que forma, educa e transforma, e não o que submete e adestra, é o alvo dos celerados. O saber que arrebata as vidas humanas, tirando-as do breu e levando-as à luz, salva, daí o ódio ao Paulo Freire e ao Darcy Ribeiro. Sigam, a escola será sempre risonha e franca.

Foto do Romeu Duarte

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