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Outro e-mail a Aírton Monte
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

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Tipo Crônica

A Tetê, Valdenora, Vessilo e Pateta

Diz aí, canalha, tudo bem? Toda vez que bate saudade tua, o jeito é mandar algumas mal-traçadas ao além, que é a tua casa. Como estão as coisas por aí, meu caro? Muito papo furado no bar celestial com Moreira Campos, Neruda, Nelson Rodrigues e Drummond, teus heróis? Da última vez que te escrevi, e já faz algum tempo, completava um ano como escriba semanal n'O POVO. Hoje, quinzenal, estou prestes a comemorar sete janeiros no Jornal. Gosto do desafio de repartir minhas observações mundanas com os leitores, se é que os tenho. Parafraseando-te, amigo, continuo trabalhando mais do que posso e ganhando menos do que mereço na "universidade do tempo das máquinas de escrever". A barra está pesada, o céu anda escuro e não é que esteja bonito para chover.

Acontece que o Brasil achou de ficar burro. Burro só, não: reacionário, imbecil, misógino, homofóbico, carola, hidrófobo. Talvez estes defeitos já existissem há muito nas pessoas, represados na marra, mas agora, tal como os rejeitos de minério de Brumadinho, romperam a barragem e sufocaram o País. Qualquer discussão de boteco vira uma rinha de galo. Aquele brasileiro cordial do Sérgio Buarque de Holanda escafedeu-se. Estamos reféns de um (des)governo que não faz jus ao nosso torrão e ao seu povo. Um bando chinfrim, baixo clero, com tintas milicianas, inculto por prazer, que pensa resolver tudo com arminha na mão e que agora faz dura oposição a si próprio. O Brasil, sem projeto e sem rumo, anda à deriva, vendo Jesus na goiabeira fritando hamburgers lisérgicos...

Nesta Taba de Alencar, como gostavas de chamar esta cidade, o mar engorda à base de aspirador de areia (e de outros bichos) e, em vez de peixe, está mais para piche. Os prédios, velhos e carcomidos, desabam com seus moradores dentro. Por sua vez, os trens, enlouquecidos, saem dos trilhos e se beijam em colisões fatais. Ceará e Fortaleza, dois times parecidos, cumprem com esmero seu fiel propósito de cair da Série A para a B no campeonato brasileiro. Pois é, poeta, a Praça do Ferreira virou uma hospedaria de miseráveis e em todos os shoppings desta Loura Nevada do Sol já é Natal. A saída talvez seja pedir uma pizza por drone ou balançar o esqueleto na zumba do Vila do Mar. Teu sobrado azul na Praia de Iracema, onde esparziram tuas cinzas, não há mais. Saudade.

Os bares e beletristas continuam abundando por cá. Como se bebe e como se lança livro por estas bandas! Talvez sejamos donos de uma cultura etílica, ou líquida, como deve continuar dizendo por essas plagas o chato do Zygmunt Bauman. Aliás, por falar nisso, teus pastos aí devem estar mais alegres com a chegada recente da minha querida Tia Santa, aquela mesma que dizia que "ô coisa triste é homem servir de mulher para outro!", "olha ela, tão bonita, parece que vai para o Rio de Janeiro!" e "quero lá saber de viaduto, eu não dou valor à falsidade!", entre outras pérolas do seu galhofeiro repertório. Procura conversar com ela, ela sempre tem um chiste certeiro. Mas, segue o baile da Ilha Fiscal. Deste gentilandino balcão do Bar do Nonato, rendo-te outro brinde de lágrimas.

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