Foto: Reprodução/ Ceará Marginal
Morre Benedito Bizerril, militante político do Ceará
onheci Benedito Bizerril, nosso querido camarada Bené, em meados dos anos setenta, quando eu chegava do Cariri. Fortaleza começara a perder o jeito provinciano e ensaiava passos de metrópole. Foi em meio aos movimentos culturais e da sociedade civil que ele entrou na minha vida, primeiro como referência da esquerda cearense e por nossa amizade comum ao Oswald Barroso; depois, como companheiro de militância no PCdoB, até se tornar um grande amigo.
Nascido em 11 de novembro de 1946, na Serra da Ibiapaba, trazia consigo a força e a história da sua terra. Ainda adolescente, em Fortaleza, atravessou as portas do Banco do Nordeste, ao ser aprovado no curso de aprendizagem bancária, abrindo sua primeira janela para o mundo da economia.
Em 1966, ao entrar no curso de Direito da UFC, levou debaixo do braço cadernos de anotações de estudo e a decisão de ser agente da transformação de seu tempo. Enquanto estudava leis, mergulhava na militância do PCdoB, na organização dos bancários e na resistência à ditadura. Vieram a greve de 1968, as prisões, a tortura e a demissão arbitrária do BNB. A sequência de golpes tentou calar sua voz, mas não conseguiu.
Bené saiu com marcas, mas sem renunciar à delicadeza com que olhava e tratava as pessoas.
Passada a fase mais dura, ajudou a reorganizar o PCdoB no Ceará, a dar voz ao jornal Mutirão e se firmou como advogado trabalhista, defendendo sindicatos e trabalhadores com firmeza e ternura.
Atuou na OAB-CE e na defesa dos direitos humanos, recebeu diversas homenagens em vida. Contudo, o que mais o alegrava era ser reconhecido na calçada pela gente simples. Será o Benedito? Ali estava ele, disponível, com seu sorriso maroto, um jeito raro de discordar sem diminuir o outro, firme contra as injustiças e delicado com as dores alheias.
Em 31 de outubro de 2025, nosso companheiro se encantou, poucos dias depois de, na 27ª Conferência Estadual do PCdoB, homenagear o jovem militante Custódio Saraiva, guerrilheiro do Araguaia, assassinado aos 22 anos pelos agentes de repressão da ditadura militar. Esse último gesto de generosidade e valorização da memória fica como marca do amigo que nos ofereceu sempre o seu apoio e a sua lucidez.
Hoje, quando me lembro das conversas, dos risos sinceros e das lutas partilhadas que tivemos, consola-me saber que Bené continua ao nosso lado, um camarada de estrada, sempre a nos lembrar que a vida vale mais quando se vive pensando no bem comum e se reparte a beleza do sonho.