Psicóloga e psicanalista
Psicóloga e psicanalista
A sociedade do desempenho do século XXI produz infartos psíquicos, diz o filósofo e professor coreano radicado em Berlim, Byung-Chul Han.
Vendo a ginasta americana Simone Billes na arquibancada, rindo, aplaudindo e vibrando com as atuações das demais atletas, depois de ter desistido de participar das finais em equipe e individuais da ginástica artística nas Olímpiadas de Tóquio, lembrei de Chul Han.
A americana soube dizer não, driblar a estupidez da mecânica e parar. Utilizou a superioridade da interrupção e assim fez Eros vencer.
Não é novidade que a sobrecarga no mundo do trabalho não representa um progresso civilizatório e sim um retrocesso.
A multitarefa, diz o coreano, está disseminada entre os animais em estado selvagem. "Um animal ocupado com a mastigação tem de ocupar-se ao mesmo tempo também com outras atividades.
Deve cuidar para que, ao comer, ele próprio não seja comido. Daí que na vida selvagem não há espaço para a contemplação".
Biles rompeu com a selvageria e se permitiu simplesmente curtir a competição. Sua decisão inteligente certamente lhe possibilitou algum prazer evitando assim um colapso psíquico.
Esse recorte olímpico explicita que vivemos em um tempo onde o que torna doente um sujeito não é o excesso de responsabilidade e iniciativa, mas o imperativo do desempenho.
Vivemos em um tempo onde nenhuma fala da dor, nenhuma poética da dor é possível (os excessos de diagnósticos e prescrição de psicotrópicos confirmam isso).
A anestesia permanente dessa sociedade paliativa coincide com a sociedade do desempenho onde a dor é vista como um sinal de fraqueza que deve ser eliminado porque não é compatível com o desempenho.
Se já admirava a ginasta americana agora virei fã! Seu recuo foi sua fortaleza.
Assim como nossa Rebeca Andrade que silenciou um repórter logo após ter ganho a medalha de prata no individual geral e ser questionada se o ouro viria. "Meu foco não é a medalha, é fazer boas apresentações. Ontem eu estava muito feliz. E é essa sensação que eu quero levar pra amanhã. Independentemente do resultado. Apesar da competição, não abri mão de me divertir em nenhum momento". Arrasou, Rebeca! n
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