Logo O POVO+
Hannah Arendt e Eros
Foto de Sabrina Matos
clique para exibir bio do colunista

Psicóloga e psicanalista

Hannah Arendt e Eros

Tipo Opinião

Escrito em 1951, "Origens do totalitarismo", de Hannah Arendt, uma das vozes mais importantes do século XX, completa 70 anos, muito embora a autora o tenha reescrito diversas vezes. Com essa obra ela conseguiu expor a dimensão inédita e singular do totalitarismo e os riscos que essa forma de dominação política representa para as democracias.

Dividido em três partes "Antissemitismo", "Imperialismo" e "Totalitarismo" a escrita da alemã é marcada pela perplexidade, o horror e a indignação, como diz Heloísa Starling no posfácio da biografia que Ann Heberlein escreveu sobre Arendt, ao ponto dela (Hannah) ter cogitado um outro título, "Os três pilares do inferno".

Perplexidade, horror e indignação foram igualmente os sentimentos diante das manifestações autoeróticas do último 7 de setembro, convocadas desde junho pelo atual inquilino do Planalto e seus apoiadores, com cartazes bradando o fechamento do STF, a prisão de seus ministros, intervenção militar, entre outras bandeiras de desmanche da democracia.

A órbita do discurso do capitão sem partido e sua patente fragilidade, cada vez mais acuado, isolado e sem perspectiva de ser reeleito em 2022, ignora completamente o espaço político compartilhado, o debate das ideias, os acontecimentos que assolam o país, como os mais de 580 mil mortos na pandemia, a inflação, o preço da gasolina, do gás de cozinha, o desemprego, a miséria, a crise energética.

Arendt dizia que para se combater o totalitarismo basta compreendermos uma única coisa: "o totalitarismo é a negação mais radical da liberdade". Ou nos mobilizamos quando a liberdade e a democracia estão sob ameaça ou jamais nos mobilizaremos por coisa alguma.

O que garante a democracia é o desejo de cada um de nós de garanti-la. A ação de todos os que desejam banir essa pornografia, esse estupro que aí está, além de ser a atividade política por excelência, dilata as vias para que Eros se manifeste com toda a sua força revolucionária e assim possamos, como disse Arendt em outro momento, levar em conta o que aconteceu, o que está acontecendo e o que pode acontecer, porque o amor ao mundo (e ao nosso país) significa nos preocuparmos com a vida para que ela possa continuar a existir. n

Foto do Sabrina Matos

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?