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A terceirização da infância
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Psicóloga e psicanalista

A terceirização da infância

Sabrina Matos, psicólogca (Foto: DIVULGAÇÃO)
Foto: DIVULGAÇÃO Sabrina Matos, psicólogca

Por dois momentos neste ano tive a alegria e a honra de receber em uma atividade denominada "Aula aberta", no curso de Psicologia da Universidade de Fortaleza, três colegas psicanalistas muito queridos. Em junho foi o casal Diana Lichtenstein e Mário Corso e, em novembro, Celso Gutfreind. São autores de diversos livros, entre os quais "Fadas no Divã", "Crônica dos Afetos" e, mais recentemente, "A nova infância em análise" no qual Gutfreind discorre acerca do fenômeno da terceirização da infância, da carência parental, da negligência de muitas famílias com as crianças.

Alguns dias antes do encontro com Celso, em um artigo que causou muita discussão, a jornalista Nathali Macedo escreveu sobre uma postagem de uma modelo, herdeira e influenciadora, Ana Paula Siebert, na qual a modelo disse estar "acabada" por ter dormido com sua bebê de um ano e meio. Segundo Siebert, a garotinha dorme todos os dias com a babá. A questão é que a herdeira afirmou que "as mamães me entenderão" e a jornalista argumentou que não, as mamães não entenderão porque a maioria das mamães cansadas não têm uma babá 24 horas por dia, sete dias por semana. A maioria das mamães faz a parte difícil: alimentam, trocam fralda, cuidam e educam seus filhos e não terceirizam a maternidade, pontuou Nathali.

Faço esse recorte porque ser mãe e ser pai não é uma tarefa simples. Demanda tempo, investimento (afetivo), paciência, noites em claro, curiosidade, mas também comporta medo, insegurança e temor porque é uma construção. Ninguém nasce sabendo ser mãe e sabendo ser pai, como disse Elisabeth Badinter em "O mito do amor materno - um amor conquistado". Donald Winnicott, um outro psicanalista, afirmava que os primeiros anos de vida de uma criança são decisivos na construção do psiquismo.

Dizia ainda em um aforismo famoso que "o bebê não existe", ele só existe na relação com a mãe. Mãe essa cujo rosto é o primeiro espelho! Isso significa que um bebê se constitui a partir do vínculo com a mãe. Claro que essa mãe não necessariamente é a que pariu, mas aquela que faz a função materna, aquela que cuida, aquela que está atenta às necessidades do bebê, aquela que é a guardiã do olhar decisivo e duradouro, como lindamente diz Gutfreind. n

 

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