Em 1931, o Instituto Internacional para a Cooperação Intelectual abordou Albert Einstein que sugeriu o nome de Sigmund Freud para uma troca de correspondências a respeito de assuntos destinados a servir aos interesses comuns da Liga das Nações e à vida intelectual.
A carta do físico alemão chegou à Bergasse 19 no início de agosto de 1932 e um mês depois a resposta do pai da psicanálise estava concluída. A missiva endereçada ao mestre vienense tem o título "Por que a guerra?"
Segundo Einstein, o problema mais urgente de todos os problemas que a civilização tem de enfrentar é se existe alguma maneira de livrar a humanidade da ameaça da guerra. O físico lança a suspeita de que existiria um instinto de ódio e destruição que coopera com os mercadores da guerra.
Freud concorda e demarca serem os instintos humanos de apenas dois tipos: aqueles que tendem a preservar e unir - Eros e aqueles que tendem a destruir e matar - Tanatos, sinalizando serem ambos essenciais, um está amalgamado ao outro.
Um exemplo? O instinto de autopreservação, de natureza erótica, deve ter à sua disposição a agressividade para atingir seu objetivo. Da mesma forma, continua Freud, o instinto de amor, quando dirigido a um objeto necessita de alguma contribuição do instinto de domínio para que obtenha a posse desse objeto.
São muitos os motivos que levam os seres humanos à guerra, prossegue o filho amado de Amália Freud. Alguns motivos são nobres, outros vis, alguns francamente declarados e outros jamais declarados. As crueldades que encontramos na história e em nossa vida de todos os dias atestam a existência e a força desse desejo de agressão e destruição, diz Sigmund.
A guerra na Ucrânia é um exemplo assim como também o garoto de 13 anos que matou a mãe e a irmã por não concordar com uma repreensão da genitora no que diz respeito aos excessos no uso do celular por parte do adolescente.
Mais adiante em sua carta o vienense nos diz que dentre as características psicológicas da civilização duas são as mais importantes: o fortalecimento do intelecto e a internalização dos impulsos agressivos. A guerra, diz Sig, é a mais óbvia oposição à atitude psíquica que nos foi incutida pelo processo de civilização, e por esse motivo não podemos evitar de nos rebelar contra ela. E finaliza com um dos trechos mais tocantes de sua correspondência: "nós os pacifistas, temos uma intolerância constitucional à guerra...tudo o que estimula o crescimento da civilização trabalha simultaneamente contra a guerra".