Logo O POVO+
Império da dor
Foto de Sabrina Matos
clique para exibir bio do colunista

Psicóloga e psicanalista

Império da dor

Vivemos em um tempo no qual cada vez mais as pessoas recorrem às drogas (lícitas) para fugir da dor de existir. É a patologização, psiquiatrização e consequente medicalização da vida
Tipo Opinião
Sabrina Matos, psicólogca (Foto: DIVULGAÇÃO)
Foto: DIVULGAÇÃO Sabrina Matos, psicólogca

Com esse título, uma série recentemente lançada na Netflix explicita a engrenagem relativa à epidemia de uso de opioides nos EUA nos anos 90. Baseada em fatos reais, os cinco episódios apresentam na trama como uma indústria farmacêutica conseguiu a regulamentação e aprovação do governo americano para distribuir de forma imprudente o narcótico OxyContin que tem como ativo a oxicodona, substância que faz parte da família da heroína, considerada até duas vezes mais potente que a morfina.

Os três irmãos empresários americanos que ganharam muito dinheiro vendendo o Valium (Diazepam) e depois fizeram um império ao adquirirem a Purdue Pharma lançando no mercado o OxyContin, utilizaram estratégias de marketing impetuosas seduzindo médicos para prescreverem o analgésico opioide de forma generalizada. Omitiram que a pílula causava uma dependência devastadora. Em 2019 a empresa pediu falência para se proteger das mais de 2600 ações judiciais.

Aqui no Brasil a droga é liberada pela Anvisa e vendida nas farmácias. É indicada para dor moderada a severa e sua venda não é controlada visto não ser tarja preta como os benzodiazepínicos, por exemplo.

Vivemos em um tempo no qual cada vez mais as pessoas recorrem às drogas (lícitas) para fugir da dor de existir. É a patologização, psiquiatrização e consequente medicalização da vida o que já significou, por mais absurdo que possa parecer, na inclusão da velhice como doença e categoria diagnóstica da CID-11 (Classificação Internacional das Doenças) lançada pela OMS em 2018 e aprovada em 2019 pela Assembléia Mundial de Saúde.

Imagine você. Velhice ser doença. Sim. Somente a partir de muita pressão e mobilização da sociedade civil essa "patologia" não vingou e foi retirada da referida classificação. A quem interessava tal inclusão? À indústria farmacêutica e seus "pesquisadores", não sejamos ingênuos. Trata-se de uma máfia que já foi explicitada por Peter Götzsche no livro "Medicamentos Mortais e Crime Organizado" que tem como subtítulo - como a indústria farmacêutica corrompeu a assistência médica. Recomendo a leitura. n

 

Foto do Sabrina Matos

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?