
Psicóloga e psicanalista
Psicóloga e psicanalista
Em uma propaganda na TV, um homem, deitado no divã, fala acerca de uma de suas angústias: como pode um aplicativo que tem no nome "comida" entregar qualquer coisa: chaveiro, shampoo, fralda? Daí então a psicanalista dizia: é Brasil...nem Freud explica!
A psicanálise, enquanto um campo teórico, conceitual, metodológico e, fundamentalmente ético, nos possibilita fazer leituras acerca do que acontece na cena social. Pode ser uma propaganda e pode ser a moda dos bebês reborn.
Em seu texto de 1914 intitulado "Sobre o Narcisismo" o gênio vienense nos diz que não nascemos com um eu constituído. O que entendemos por "eu" vai se constituir a partir do outro. O que isso quer dizer? Que a nossa constituição psíquica depende inexoravelmente dos investimentos que o outro faz em nós. Dos investimentos parentais: mãe, pai, o entorno familiar, a cultura. Chamamos a isso de Banho de Linguagem.
São todos os ditos e não ditos, todas as expectativas que o outro deposita naquele pedacinho de carne que somos ao nascer. Por isso dizemos que somos constituídos pelo desejo do outro. Existimos muito antes de um teste positivo de gravidez porque existimos no desejo do outro antes de qualquer coisa.
E o que tem isso a ver o bebê reborn? Uma das leituras possíveis é a do desamparo. Somos sujeitos do desamparo, da falta, da incompletude. Se, num primeiro momento, temos a mãe (ou quem quer que exerça a função materna) que é tudo para o bebê, essa inscrição de completude (de ser tudo para o outro - no caso, para a mãe e, ao mesmo tempo, essa mãe ser tudo para o bebê) vai dar lugar a uma outra posição subjetiva, porque nada nem ninguém é tudo para o outro.
Essa primeira cena é fundamental e deixa uma marca em cada um de nós. Um dia fomos tudo para o outro! Daí, quando apaixonados dizemos que o outro é tudo para nós! Não é! Nenhum objeto preenche essa nossa condição de falta, de desamparo. O bebê reborn pode ser lido dessa forma. É um objeto no qual alguns depositam expectativas, desejos. Escancara o quanto somos desamparados. Escancara que investimos libido nos objetos.
Pode ser um bebê de carne e osso mas pode ser também um bebê reborn. Escancara o quanto podemos projetar no outro nossas frustrações, nossas dores, nosso desamparo. É o bebê reborn mas pode ser qualquer objeto.
Em psicanálise um objeto pode ser um boneco, uma boneca, um sapato, um carro, um pet, uma pessoa. Somos drogadictos de objetos! Esperamos que os objetos nos constituam enquanto sujeitos! Mas isso fica para o próximo artigo!
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