Logo O POVO+
Bebê reborn e o desamparo - parte 2
Foto de Sabrina Matos
clique para exibir bio do colunista

Psicóloga e psicanalista

Bebê reborn e o desamparo - parte 2

Já existem comunidades de mães de bebês reborn. Da mesma forma que existem comunidades de sujeitos que vestem a camisa de determinados diagnósticos, como "Autismo", "TDAH", "TOD", só para citar alguns
bebê reborn na maternidade reborn (Foto: Reprodução/Instagram/ Alana Babys)
Foto: Reprodução/Instagram/ Alana Babys bebê reborn na maternidade reborn

Em meu último artigo fiz algumas construções acerca do fenômeno "bebê reborn e finalizei apontando a condição de drogadictos de objetos, no sentido de que esperamos que os objetos nos constituam como sujeitos.

Quando falo aqui de drogadictos de objetos não significa somente pensarmos a toxicomania em um sentido restrito e sim, como um discurso. É um sintoma social e o bebê reborn faz parte desse recorte que por sua vez está relacionado à extensão do capitalismo. O bebê reborn pode até ser uma novidade mas, a relação que estabelecemos com os objetos, não.

O conceito de objeto em psicanálise é algo sempre polissêmico que dá ao sujeito a ilusão de um encontro "adequado". É uma espécie de metáfora, é algo que satisfaz a nossa condição de sujeitos pulsionais, de sujeitos da falta, da incompletude, do desamparo.

No artigo anterior iniciei trazendo uma propaganda do aplicativo Ifood. Qual é o slogan desse aplicativo? "É tudo pra mim." Não é! Nenhum objeto é tudo pra quem quer que seja porque somos sujeitos da falta, nos constituímos enquanto sujeitos a partir da falta. Mas o mercado tenta de todas as formas nos fazer acreditar que esse objeto existe. Uma operadora de celular diz: "viver sem fronteiras". Um laboratório multinacional de psicotrópicos diz: "sentindo a felicidade crescer a cada consulta".

Dá até vontade de rir de tão prosaico mas, em geral, as pessoas adoram e acreditam. Um outro laboratório promete "uma vida sem altos e baixos". Uma vida sem altos e baixos é a morte! É a linha reta no eletrocardiograma.

Acreditam no que diz o banco Al-Hilal: "tudo gira em torno de você". Acreditam que todos esses convites que partem do mundo externo trazem satisfação mas, todos eles são secundários. O sujeito deposita todas as fichas em um objeto porque tem a ilusão de que aquele objeto tampona a falta, a incompletude, o desamparo.

E como o mercado sabe fazer isso! Com a onda dos bebês reborn não é diferente. Já existem comunidades de mães de bebês reborn. Da mesma forma que existem comunidades de sujeitos que vestem a camisa de determinados diagnósticos, como "Autismo", "TDAH", "TOD", só para citar alguns. A psicanálise incomoda porque não faz uma leitura "em conjunto" de todos esses recortes e também porque não faz ortopedia com os sujeitos. O psicanalista só lida com singularidades e isso faz toda a diferença!

Foto do Sabrina Matos

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?