
Psicóloga e psicanalista
Psicóloga e psicanalista
Em livro publicado originalmente no ano de 1982, intitulado "O Desaparecimento da Infância", o educador e crítico cultural estadunidense Neil Postamn explicita um conjunto de sinais de que a infância está em extinção.
O que sustenta tal assertiva? Crianças que se vestem como adultos, que consomem como adultos, que assistem aos mesmos programas de TV que os adultos, que acessam as mesmas redes sociais que os adultos (atualização minha), é um tempo que não reconhece a infância como um tempo especial no qual a criança deveria ser protegida e cuidada pelos adultos que deveriam se colocar na posição de responsáveis.
O que assistimos, no ano da graça de 2025, é um monte de adultos infantilizados e que, cada vez mais, têm dificuldades em demarcar que estão em uma geração acima da geração de seus filhos e filhas.
Adultos que brincam de ser mães e pais com os reborn, que comemoram aniversários com temas infantis, que chupam chupeta! Que tempo é esse? Adultos cujas potencialidades intelectuais e emocionais não se realizaram?
É bem verdade que adultos assim sempre existiram, a questão que destaco aqui é que o nosso tempo parece normatizar tais recortes. Adultos que explicitam nas redes sociais aquilo que deveria ficar no campo da intimidade. Muitos bebês já nascem Instagramáveis. Ora, de fato, isso não é de hoje.
Lembro quando a filha da rainha dos baixinhos nasceu. Matéria de, se não estou enganada, 28 minutos no Jornal Nacional. O primeiro banho em cadeia nacional. O primeiro corte das unhas para quem quisesse ver.
A infância como a concebemos, como um tempo de vida anterior à vida adulta, não é algo natural.
É uma construção. Falar de infância é falar de um "sentimento de infância" que diz respeito à consciência das particularidades que diferenciam esse período do ciclo vital da vida adulta. Vivemos em um tempo no qual esse sentimento de infância está desaparecendo da arena simbólica em que acontece o crescimento humano e isso significa que é um tempo em que não se exige uma diferenciação entre a sensibilidade do adulto e a da criança. É o que o autor citado acima sinaliza como sendo uma fusão, as duas etapas da vida (infância e vida adulta) se fundindo em uma só.
Nas duas últimas semanas muito se falou acerca da adultização das crianças (na verdade, sexualização/erotização das crianças) e do projeto de lei aprovado no Senado no último dia 27 que cria regras para a proteção de crianças e adolescentes em ambientes digitais.
Certamente políticas públicas são fundamentais mas é urgente que pais, famílias, escolas e toda a sociedade comprem essa discussão de verdade. Enquanto crianças forem colocadas como "A Alma do Negócio" (documentário que indico aqui ao leitor, parte de uma trilogia sensacional que inclui ainda "Tarja Branca" e "Muito Além do Peso") nada vai mudar.
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