
Psicóloga e psicanalista
Psicóloga e psicanalista
Há alguns anos, quando propus o título deste artigo para uma mesa em um evento relativo ao Setembro Amarelo, fui questionada por um colega. O título na verdade é o capítulo 18 do livro "Medicamentos Mortais e Crime Organizado" de autoria do médico Peter Gøtzsche, obra que explicita o que faz a indústria farmacêutica para vender suas pílulas. Aluno meu na graduação é sempre convidado a ler pelo menos os capítulos 17 e 18 do referido livro.
O que o autor aborda é o que assistimos cotidianamente, seja na escuta clínica, seja na supervisão em uma clínica-escola: a grande maioria dos pacientes atendidos faz uso de psicotrópicos. As indicações dessas substâncias são as mais diversas, indo de tensão pré-menstrual passando por "tristeza", de humor deprimido à ejaculação precoce, de insônia à hipersônia, passando por luto, problemas dermatológicos, gástricos, reumatológicos, etc.
Ou seja, não há sofrimento psíquico no qual a terapêutica adotada não seja a prescrição de um psicotrópico. Não estou exagerando. Indicação de antidepressivo é de praxe para todas as situações descritas (e muitas outras), ancoradas em uma suposta etiologia de alteração na química cerebral, muito embora não se tenha comprovação nenhuma de tais alterações.
No que diz respeito ao Setembro Amarelo, campanha iniciada em 2015 e que atua supostamente na prevenção ao suicídio, nos chama a atenção algumas pesquisas apontarem dados ascendentes após a sua implantação, o que dá margens para questionarmos sua efetividade, visto que, muitas vezes, o discurso se resume a sustentar uma causalidade única para o suicídio (depressão), desconsiderando sua complexidade e igualmente fatores de ordem política, cultural, social e econômica. Sempre é bom lembrar que prevenção do suicídio não é sobre evitar mortes, é sobre o acolhimento de quem sofre.
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