Logo O POVO+
Não há fisiologia, peculiaridade ou atividade que exclua a mulher
Foto de Sara Oliveira
clique para exibir bio do colunista

Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do jornal O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade.

Sara Oliveira cotidiano

Não há fisiologia, peculiaridade ou atividade que exclua a mulher

Como provou Jovita Feitosa há quase duas centenas de anos, lugar de mulher é onde ela quiser. Não há fisiologia, tarefas específicas, desempenho ou peculiaridades de atividades que a exclua de alguma função ou cargo
FORTALEZA, CE, BRASIL, 02-03-2020: GLO (Garantia da Lei e da Ordem) Veiculo Blindado. Rotina da Tropa GLO na Operação MADACARU aqui no estado por conta da paralização da PM (Policia Militar). a Reporter Ana Rute Ramires, Reporter do JOrnal O POVO faz a experiencia de viver um dia na rotina do exercito em operação. (Foto: Aurelio Alves/O POVO).. (Foto: Aurelio Alves/O POVO)
Foto: Aurelio Alves/O POVO FORTALEZA, CE, BRASIL, 02-03-2020: GLO (Garantia da Lei e da Ordem) Veiculo Blindado. Rotina da Tropa GLO na Operação MADACARU aqui no estado por conta da paralização da PM (Policia Militar). a Reporter Ana Rute Ramires, Reporter do JOrnal O POVO faz a experiencia de viver um dia na rotina do exercito em operação. (Foto: Aurelio Alves/O POVO)..

"Um Brasil marcado pelo patriarcado, onde mulheres são consideradas incapazes de diversas tarefas. Um século marcado pelas guerras e o sentimento patriota do povo brasileiro. No meio dessas realidades viveu Antônia Alves Feitosa, a Jovita Feitosa". O trecho é do caderno de 95 anos do jornal O POVO, fala do século XIX, de uma menina cearense que se vestiu de homem para lutar em uma guerra.

Heroína, desbravadora, forte, corajosa. Enquanto homens se fantasiavam de mulher para não serem convocados à guerra, ela, aos 19 anos, se vestiu de homem e se alistou. Ao ser descoberta, serviu de exemplo ao País para mostrar que até uma mulher queria ir aos campos de batalha. Depois, foi descartada e acabou sendo cotada apenas para o cargo de enfermeira, único "compatível com a natureza do seu sexo". Negou. O desejo era de estar nas trincheiras.

De lá até aqui são 176 anos. Há cerca de um mês, o advogado-geral da União, Jorge Messias, disse que a admissão de mulheres no Exército é um processo em andamento e que "depende de recursos orçamentários" e "deve ocorrer de forma segura, criteriosa e paulatina, de forma a resguardar a operacionalidade da Força".

O argumento está em documento enviado ao ministro do Superior Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, como parte de uma das ações de inconstitucionalidade levadas, em outubro de 2023, ao STF pela então subprocuradora-geral da República, Elizeta Ramos. As ações contestavam as regras que restringem o acesso feminino às fileiras específicas das três Forças Armadas e da Polícia Militar em 14 estados. Incluindo o Ceará.

Para embasar o posicionamento do advogado-geral do Governo Federal, o Exército argumentou que a "fisiologia feminina" pode comprometer o desempenho militar numa situação de combate. E que igualar as condições de acesso ao Exército para homens e mulheres desconsidera as "peculiaridades de suas atividades". A AGU acatou os argumentos e se manifestou no processo do STF, sendo contra a imediata ampla concorrência para a carreira militar.

As ações de inconstitucionalidade foram pautadas pela busca de mais isonomia de gênero. A subprocuradora defendia que todas as vagas para cursos de formação de oficiais e de sargento de carreira fossem acessíveis para homens e mulheres.

É a busca mínima por mais igualdade e equidade, principalmente no que diz respeito a oportunidades de ascensão e ocupação de espaços de poder. Seja nos plenários das Casas políticas, seja nas trincheiras onde, segundo o Exército, é exigido "dos combatentes profissionais extremo esforço físico e mental".

Como provou Jovita Feitosa há quase duas centenas de anos, lugar de mulher é onde ela quiser. Não há fisiologia, tarefas específicas, desempenho ou peculiaridades de atividades que a exclua de alguma função ou cargo. Mas os homens do Exército, do Governo Federal e do STF ainda não entenderam. Eles não sabem mesmo o quanto nos é exigido de força e saúde mental para continuar seguindo apesar disso.

 

Foto do Sara Oliveira

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?