Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do jornal O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade.
O caminho para que a PEC proposta pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP) seja aprovada ainda é longo e muito tortuoso. Precisa ser discutido em detalhes, com os números e realidades expostos nos plenários, comissões e entidades de pesquisa
A escala de trabalho das mulheres é um 7x0 definido por muitas realidades. No meio das discussões sobre a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que prevê o fim da escala 6x1 (seis dias de trabalho e um de descanso) lembrei do dia em que, ao conversar sobre a importância de haver políticas e leis trabalhistas que favorecessem as mulheres, ouvi um "quer moleza, senta num pudim, filha".
Era como se eu estivesse falando sobre vantagem e não sobre invisibilidade do trabalho doméstico, sobrecarga de trabalho, protagonismo do cuidado, maternidade, desigualdade racial e socioeconômica.
Dados do Censo de 2022 mostram que o total de mulheres chefes de família no Brasil subiu de 38,7% em 2010 para 49,1% em 2022. No Ceará, esse percentual foi ainda maior, de 50%. A porcentagem de homens que são responsáveis pelo sustento da família diminuiu no período, de 61,3% para 50,9%.
Ao mesmo tempo que as mulheres trabalham fora para pagar as contas, elas são responsáveis por 85% do trabalho de cuidado no Brasil. Os números do IBGE mostraram ainda que o público feminino gasta 21 horas semanais limpando, cozinhando, levando familiares ao médico, fazendo supermercado, agilizando questões burocráticas… nessas funções, os homens gastam 11 horas semanais.
As mulheres trabalham o tempo todo. Se elas são pretas e pobres, trabalham imensamente mais. E grande parte do público que será atingido por uma possível mudança na jornada de trabalho atua em segmentos do comércio, serviço e enfermagem, com longas cargas horárias, pouca segurança e baixos salários.
Em meio ao debate de seis dias trabalhados para um de folga, ou de 40 e não 44 horas trabalhadas por semana, encontramos as mesmas resistências e justificativas econômicas contrárias. Um sistema que, em sua essência, penaliza os mais fracos enquanto fortalece ainda mais quem já é forte. Quebrar isso não é fácil!
Se há quem demande direitos e há quem não concorde com isso, claramente existem lados de interesse diferenciados. Romper essas estruturas já prontas é, para alguns, "estardalhaço", "loucura", "esculhambação". As tentativas são de diminuir e ridicularizar o fato de que as trabalhadoras brasileiras e os trabalhadores brasileiros precisam ter tempo para fazer mais do que só trabalhar.
O caminho para que a PEC proposta pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP) seja aprovada ainda é longo e muito tortuoso. Precisa ser discutido em detalhes, com os números e as realidades expostos nos plenários, nas comissões, nas entidades de pesquisa. O que não pode mais é acharmos que propostas que olham para o direito não devem estar nas principais pautas do País.
O mundo tem despertado cada vez mais para questões que garantam a vida em sociedade, como a importância da primeira infância, qualidade de vida e valorização do trabalho. Com ênfase às questões de gênero. Para as mulheres, a realidade é a de viver para o trabalho e para todas as pessoas, menos para ela própria.
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