Tráfico e facções: meninas e mulheres ainda desaparecem e morrem
Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do jornal O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade.
Tráfico e facções: meninas e mulheres ainda desaparecem e morrem
Casal foi morto no Carlito Pamplona após mãe denunciar desaparecimento da filha à Polícia. É preciso ampliar o olhar sobre as questões de gênero e a vulnerabilidade de meninas e mulheres no contexto da violência urbana
O domínio das organizações criminosas que lucram com o tráfico de drogas se impõe através de barricadas, assassinatos em via pública, corpos decapitados, cenas cotidianas de pessoas armadas aterrorizando moradores de áreas periféricas.
No fim de semana passado, a morte de um membro de facção rival gerou horas ininterruptas de queima de fogos, que se alastraram pela Cidade pelo barulho ou pelos boatos.
No meio da insegurança, a impossibilidade de que crimes contra mulheres e crianças sejam sequer denunciados à Polícia. Essa realidade não é nova e ganha a cada dia novos recortes.
A primeira família precisou esperar sete dias até que a organização criminosa do bairro lhe desse autorização para denunciar o desaparecimento da adolescente.
No caso do reencontro, pais questionavam o que teriam feito de errado para que a filha tivesse passado dias em outro bairro, envolvida com membros de facções, consumindo drogas.
Na época, em entrevista ao O POVO, a então a psicóloga do Núcleo de Atendimento Jurídico Especializado do Adolescente em Conflito com a Lei (Nuaja), da Defensoria Pública do Ceará, Isabelle Barbosa Nogueira, falou da relação dessas meninas com jovens ligados à criminalidade.
"O envolvimento delas está cada vez mais direto com o tráfico porque elas moram onde o tráfico acontece. Muitas não têm periculosidade, não traficam. Elas vivem uma história de amor", disse.
No fim do ano passado, o Comitê de Prevenção e Combate à Violência da Assembleia Legislativa do Ceará divulgou que entre 86 homicídios de meninas de 10 a 19 anos ocorridos em 2018, 39 casos (que envolviam 43 mortes) ainda estavam na fase de inquérito policial e 20 haviam sido arquivados por falta de provas.
Os números e as ocorrências mostram a necessidade de ampliar o olhar sobre a tipificação dos crimes contra as meninas e mulheres.
Mostram como a violência urbana rompe limites e impacta nas questões jurídicas, comportamentais, institucionais, de gênero, de forma brusca e desigual. Os casos de meninas e mulheres vulneráveis, desaparecidas e mortas não podem ser mais embutidos na conta da guerra de facções.
Há contextos diferentes e eles precisam estar presentes em todas as fases de prevenção, apuração e penalização de crimes.
É desmistificar o discurso de dizer que elas morreram porque estavam envolvidas com o tráfico. É aprimorar, juridicamente e nas forças de segurança pública, o que legislações como a Lei Maria da Penha determina.
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