Quantas vezes precisei gritar para ser ouvida em uma coletiva
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Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade
Quantas vezes precisei gritar para ser ouvida em uma coletiva
Não é um caso esporádico, não foi porque a repórter tomou a frente do colega ao abordar uma fonte. Isso é machismo, mais uma vez, acontecendo da forma que mais conhecemos: através da força
Foto: Reprodução/vídeo
A repórter Grace Abdou, da Record, foi empurrada pelo repórter Lucas Martins, da Band
A cena de um repórter agarrando e empurrando uma jornalista pelos braços e a tirando da frente da fonte com a qual ela conversava foi mais uma daquelas que indignam e mostram a realidade do jeitinho que ela é. Mulheres que trabalham com Jornalismo não conseguem contar nos dedos as tantas vezes em que são caladas, desrespeitadas, subestimadas e, sim, agredidas.
E exemplifico de forma bem objetiva: dia desses uma estagiária chegou da pauta explicando por que só conseguiu fazer uma pergunta ao entrevistado, que era um gestor público. “Os repórteres homens gritavam em cima das minhas perguntas e ele (a fonte) parecia que só escutava eles”.
De pronto me solidarizei e lembrei das tantas vezes que precisei colocar força no braço para que meu gravador alcançasse a voz do entrevistado, de quando precisava quase gritar para ser minimamente ouvida, de quando a amiga fotojornalista peitava os cinegrafistas para conseguir trabalhar.
No meio dos possicionamentos dos jornalistas sobre o caso - a repórter da Record abordava familiares de adolescentes desaparecidas e o repórter da Band achou ruim por ela ter tomado a frente dele - um colega falou que as pessoas ficam malucas em coberturas coletivas. É mais do que isso, sempre é mais do que isso. E só uma mulher que já precisou gritar numa coletiva sabe.
Não é um caso esporádico, não foi porque a repórter tomou a frente do colega ao abordar uma fonte. Isso é machismo, mais uma vez, acontecendo da forma que mais conhecemos: através da força.
A triste realidade fica ainda mais clara quando o apresentador da Record, ao repudiar o que houve e defender a colega de emissora, diz: “vem me empurrar aqui!”. Claro, entre homens não teria problema, né?
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