Gravidez precoce perpetua a pobreza e a falta de prioridade política
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Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade
Gravidez precoce perpetua a pobreza e a falta de prioridade política
Em 2023, na sala de espera da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), lembro de entrevistar avó e mãe. A primeira com 47 anos, cinco filhos e dez netos. A segunda com 17 anos, sendo mãe pela primeira vez, depois de cuidar dos três filhos da irmã, de 20 anos. As dificuldades que eu, na época com 40 anos e dois filhos, comecei a narrar sobre a vida materna, se perderam em meio aos relatos daquelas duas mães.
O pai do bebê da adolescente estava preso, ela não havia terminado nem o ensino fundamental e quando perguntei sobre o futuro, a resposta foi "ainda não pensei". A avó, de pronto, reagiu: "Que futuro uma mãe que não trabalha pode dar ao filho? Porque eu trabalho para dar a ela, porque não tem quem dê. O pai foi só pra fazer".
Não se trata de um caso isolado. Uma em cada 23 meninas brasileiras entre 15 e 19 anos já teve um filho. Em mais de 49 mil partos, a mãe tinha entre 10 e 14 anos. Os números, embora já conhecidos, escancaram o resultado da carência de políticas públicas que amenizem as vulnerabilidades às quais meninas são expostas no Brasil.
Dados são de pesquisa da Universidade Federal de Pelotas, de 2020 a 2022, e consideram a taxa de fecundidade em 5,5 mil municípios brasileiros. Estudo exibe um recorte sócio-econômico alarmante: 69% dos municípios apresentaram índices de fecundidade acima do que seria esperado para um país de renda média-alta, que é a classificação econômica oficial do Brasil.
Cenário que destaca as desigualdades regionais e prova a relação direta entre gravidez precoce, pobreza, evasão escolar e falta de acesso a serviços públicos. Na região Norte, o índice de grávidas é de 77,1 nascimentos por mil meninas. No Sul, essa taxa é de 35.
Antes de engravidar, durante a gestação e depois de estar com o filho nos braços, essas jovens convivem com diversos e diferentes riscos sociais. São vítimas de abusos, estupros e violências. E como em todas as estatísticas que envolvem crimes sexuais e de violência contra mulheres, é preciso fazer a ressalva da subnotificação.
Em 2025, até julho, no Ceará, dos 1.019 crimes sexuais registrados pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), 80% tiveram como vítima crianças e adolescentes até 19 anos. Um total de 825 casos, dos quais, 85% foram contra crianças até 14 anos. Meninas que na grande maioria das vezes sofrem sem denunciar, engravidam sem ter direito a abortar e continuam a viver à margem dos direitos que deveriam lhes ser assistidos. Um ciclo geracional, afetado pela falta de assistência e oportunidade.
A gravidez precoce perpetua a pobreza e ratifica a falta de prioridade política. Tem impacto nos principais segmentos da sociedade: Saúde, Educação, Economia. Os números precisam incitar ações para que o futuro de meninas não seja mais violado. n
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