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O valor de um professor é dado pelos alunos que com ele aprenderam
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Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do O POVO há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade

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O valor de um professor é dado pelos alunos que com ele aprenderam

A frase de um dos ex-alunos do meu pai deixou ainda mais claro o conceito de que somos e seremos lembrados pelo que compartilhamos ao longo do caminho
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Professor Apolônio Fernandes Neto morreu aos 81 anos (Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Professor Apolônio Fernandes Neto morreu aos 81 anos

Mais de 10 mil de curtidas, centenas de comentários e dezenas de compartilhamentos. Não estou falando de uma rede social, mas de como esta plataforma foi palco para que eu entendesse o que significa a atuação de um professor na vida de seus alunos. Em 2018, escrevi sobre o valor de um trabalhador, questionando como homens e mulheres não recebem a devida valorização por seus serviços. Anos depois, na dor, descubro que o valor de um trabalhador professor é diferente de qualquer outro.

"Camisa de pano passado sempre, bigode "moralizador" e uma expressão séria (apesar de ser alguém agradabilíssimo numa conversa descontraída com os alunos)!". "A Geografia foi muito bem representada por esse mestre". "Conseguia transformar puxão de orelha em conselho, e bronca em aprendizado. Figura única, coração gigante e um senso de humor que fazia a escola ser menos pesada". "Foi meu professor há 40 anos! Hoje, sendo eu professor, ainda o tenho como referência em sala de aula!".

Essas foram algumas das frases que alunos deixaram para um professor que eles não viam há pelo menos três décadas. As condolências pela morte do docente, que ensinou Geografia e História e coordenou séries nas mais renomadas instituições de ensino públicas e privadas, iam revelando, post após post, como educar é uma missão extraordinária, transformadora e marcante.

O processo de aprendizagem é troca. Há muito sabe-se que ensinar não é repassar de conteúdo, muito menos se resume ao chão da sala de aula. Sensibilidade e escuta são fundamentais, principalmente junto a adolescentes. Percepção da vida fora da escola, debate, construção de criticidade, exemplos...

As mensagens deixadas para o professor Apolônio Fernandes Neto, meu pai, só confirmam o que pesquisas quantificam e histórias de vida contam: um bom professor é capaz de transformar a vida de um aluno. Para sempre.

Meses antes da morte do meu pai, um de seus alunos - um dos grandes comunicadores do Ceará - me identicou como filha do seu "querido professor" e, chorando, disse: "um dia eu te conto como algo que o Popó me disse mudou quem eu sou".

A frase deixou ainda mais claro o conceito de que somos e seremos lembrados pelo que compartilhamos ao longo do caminho. E meu pai compartilhou o passado dele para ajudar a construir um pouquinho de milhares de futuros.

Em 2018, quando me vi tomada pela injustiça de uma demissão sem reconhecimento, destaquei que o valor de um trabalhador não está nas paredes do local onde ele trabalha.

Sete anos depois, estudante de Pedagogia e filha orgulhosa, a mágoa pela empresa que não soube valorizar meu pai se foi. A mesma certeza, porém, continua: o valor está nas pessoas, nos alunos. Nos professores.

Foto do Sara Oliveira

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