
Jornalista, Professora, Empreendedora social, Mestre em Educação (UFC). Nesta coluna Cidade Educadora, escreve sobre os potenciais educativos das cidades, dentro e fora das escolas
Jornalista, Professora, Empreendedora social, Mestre em Educação (UFC). Nesta coluna Cidade Educadora, escreve sobre os potenciais educativos das cidades, dentro e fora das escolas
Ainda que recente nessa devoção, sinto-me imersa em décadas de experiências maternas pela sororidade de reconhecer as múltiplas vivências que dão sentido à palavra mãe. Maternidades desejadas, rejeitadas, inesperadas, honradas, abandonadas, esquecidas, típicas ou atípicas, cuidadas, solitárias, ignoradas, frustradas, lutadas, abençoadas, amaldiçoadas. Milhões de sentidos em dezenas de categorias. Quaisquer que sejam, os impactos vindos das maternidades são espelhos sociais.
Talvez, a maternidade seja a condição de existência e de sobrevivência que melhor expresse como estamos cuidando da espécie e qual valor estamos atribuindo às funções desempenhadas por quem gera, alimenta, cria, educa; funções não necessariamente submetidas ao exercício de todas as fases por um mesmo ser. Seja como for, como lidamos com as maternidades também nos define enquanto seres sociais.
Sempre comparo a uma avalanche em mim a chegada da minha primeira maternidade: inesperada, rápida, avassaladora, invasora súbita de tudo o que eu era, destruidora indomável de todas as rotinas, os horários, os planejamentos, os sentimentos conhecidos, as crenças. Depois da sobrevivência, o renascimento. Outro corpo, outra mente, outra consciência.
Depois do renascimento, o engano número 1: a sensação de sobrevivência materna se limita apenas à superação do puerpério ou do primeiro ano do bebê. Não. Ser e permanecer mãe consciente, presente e responsável é uma luta pela sobrevivência dia após dia, para sempre, em uma sociedade capitalista, consumista, opressora.
Depois do renascimento, o engano número 2: a solidão materna se restringe somente aos primeiros tempos de renascimento. Não. A solidão é uma constante, mesmo que haja um bom parceiro ou parceira de jornada, mesmo que haja uma sólida rede de apoio.
A solidão está nos tempos de amamentação desrespeitados; nas demissões ou nos salários reduzidos das profissionais que se tornaram mães porque precisaram negociar algumas horas livres para acompanhar filhos em rotinas de cuidado; nos horários de trabalho inflexíveis ou nos tempos de qualidade não vividos com os filhos, porque o mercado valoriza mais o projeto que precisa ser finalizado do que os sorrisos das crianças que veem suas mães lá no meio da plateia, durante as apresentações da escola, ou porque há muitas demandas sociais (tão exaustivas!) para também dar conta; nas dispensas ou nos questionamentos feitos a mães pesquisadoras durante seleções acadêmicas porque, "você entende, como vai ter tempo para se dedicar à pesquisa, sendo mãe de crianças?”, eles justificam.
Em um paradoxo irracional, exigem, principalmente, da maternidade, exercida de maneira algumas vezes compulsória, a presença amorosa e paciente, o acompanhamento constante, a tranquilidade de uma geladeira cheia, a serenidade de saber que não está sozinha na tarefa mais árdua de todas: a de educar para o respeito, para a convivência em paz com os outros, para o sucesso.
O que, na verdade, muitas crianças e adolescentes acompanham, no dia a dia com suas famílias, é a peleja dos seus cuidadores, especialmente mães, em situações de injustiça diante da luta (muita luta!) para fazer valer o cuidado possível, o que pode significar não os deixar morrer de fome.
Eles crescem sabendo que ter filhos significa ter uma responsabilidade em que serão somente eles por eles mesmos. Não há nada de cuidado compartilhado não. Uma lástima em termos de ensinar crianças e adolescentes a serem humanos em essência. Uma tragédia que reforça os preconceitos de gênero.
Maternidade ainda é solidão e sobrevivência possível. Disso, advém mazelas sociais, por vezes, irreversíveis: crianças e adolescentes frágeis emocionalmente, muito mais vulneráveis a influências externas maléficas, sem vínculos fortes o suficiente com seus cuidadores para que estes consigam ajudá-los com os dramas de crescer; adultos com baixa autoestima, pouco confiantes em si e com ralo potencial de uma sociabilidade saudável.
Não é que todos esses impactos comportamentais não possam ser evitados pela presença de outros cuidadores. Sim, podem. Mas é que, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE | PNAD 2022), pela primeira vez na história, mais da metade dos domicílios brasileiros são chefiados por mulheres.
Isso significa que dos 72.446.745 domicílios existentes, 37 milhões têm como principal responsável uma mulher, quase sempre, mãe. A pesquisa indicou ainda que de todos os adultos que moram sozinhos com os filhos, 86,4% são mulheres: mães solo.
Precisamos cada vez mais refletir sobre como temos tratado as maternidades na nossa sociedade. Disso pode depender a nossa própria sobrevivência.
No próximo sábado, dia 10 de maio, a Pró-Reitoria de Cultura (PROCULT UFC) realiza a 2a edição do projeto UFC de Portas Abertas, com programação especial nos equipamentos culturais e na Reitoria, durante o período da manhã, das 9h às 13h.
A querida professora Andrea Pinheiro, do Curso de Sistemas e Mídias Digitais e coordenadora do Laboratório de Pesquisa da Relação Infância, Juventude e Mídia (LabGRIM/UFC), passou por aqui e deixou dicas valiosas da programação. Nos jardins da Reitoria, abertos também para a realização de piqueniques, haverá duas atividades voltadas para crianças e jovens:
1) A contação de história “Carolina Maria de Jesus, uma biografia”. Voltada para todas as idades, a atividade tem duração máxima de 30 minutos e busca despertar o interesse pela literatura, pela memória social e pela trajetória de uma das vozes mais potentes da escrita brasileira. É uma atividade do projeto Círculo de Leitura Literária Carolina Maria de Jesus. A contação será às 10h.
2) Também nos jardins da Reitoria, haverá uma atividade com jogos de tabuleiro que vão envolver a criança e o público que gostam de jogos analógicos, às 10h30min.
Haverá programações também na Casa José de Alencar, Casa Amarela Eusélio Oliveira, Museu de Arte da UFC, Memorial da UFC, Seara da Ciência, Rádio Universitária FM e Espaço Cultural Bergson Gurjão Farias. Confira a programação completa pelo insta da Pro-Reitoria de Cultura da UFC (@procultufc). Levem as crianças e os adolescentes!
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