
Historiador, pesquisador, escritor, editor do O POVO.Doc e ex-editor de Opinião do O POVO
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Cada coluna é uma forma de diálogo, é o convite constante que faço ao leitor(a). O tema proposto pode ser adicionado, democraticamente, nos comentários e, assim, agregamos outras análises. A proposta da semana caminha na reflexão do revisionismo histórico que nos chega com mais força nos últimos anos.
Os acontecimentos que trouxeram, novamente, a discussão ao grande público do que seja revisionismo histórico reiniciaram com os protestos antirracistas do Black Lives Matter (BLM), principalmente nos Estados Unidos e Inglaterra, que após o brutal assassinato de George Floyd manifestantes saíram às ruas para mobilizar por justiça e igualdade que a população negra é historicamente alijada. Mais que simbólico, a destruição das estátuas de escravagistas representa que devemos, enquanto sociedade, repensar os símbolos de intolerância e abusos históricos normatizados.
Dia 24 de julho, o grupo Revolução Periférica assumiu autoria do incêndio da estátua de Borba Gato. Inaugurada em 1963, em São Paulo, para a comemoração do IV Centenário de Santo Amaro. Anteriormente, o monumento sofreu outros protestos. Nas redes sociais e imprensa há quem seja a favor ou contra o ato incendiário.
"Borba Gato e os demais bandeirantes são acusados de assassinatos, escravidão, violências e estupros da população negra e indígena."
Vivíamos no período colonial brasileiro, Borba Gato foi um bandeirante que nos séculos XVII e XVIII se envolveu com o desbravamento da terra e busca de ouro e pedras preciosas nos atuais estados de Minas Gerais e São Paulo. Borba Gato e os demais bandeirantes são acusados de assassinatos, escravidão, violências e estupros da população negra e indígena.
Os bandeirantes foram resgatados pela contemporaneidade com a Revolução Paulista de 1932, na intenção de unir a população e identificar personagens ufanistas de um passado pretensamente glorioso. Mas, a que preço esse passado foi construído? Qual a base moral, ética, transparente e histórica desses “heróis”?
"A História, enquanto ciência, é viva, não é finita e limitada pelos livros e conceitos sacralizados, a cada dia são descobertos e aprofundados conhecimentos encobertos pelo tempo e interesses que, até então, moldaram o “julgamento final” da história oficial."
Quanto ao tema, o jornalista e escritor Laurentino Gomes traz a seguinte proposta: “Estátuas, prédios, palácios e outros monumentos são parte do patrimônio histórico. Devem ser preservados como objetos de estudo e reflexão”.
O sociólogo Ricardo Nunes tem um olhar diferente, vejamos: “Destruir monumentos nunca foi um problema no Brasil. Basta que sejam os monumentos certos. [...] O problema só ocorre quando se destroem os símbolos que glorificam a elite. A destruição dos raros monumentos erguidos em memória da classe trabalhadora nunca suscitou indignação ou falsos debates sobre “preservação histórica””.
A História, enquanto ciência, é viva, não é finita e limitada pelos livros e conceitos sacralizados, a cada dia são descobertos e aprofundados conhecimentos encobertos pelo tempo e interesses que, até então, moldaram o “julgamento final” da história oficial. O primeiro revisionismo histórico, talvez, tenha sido a Teoria da Evolução de Charles Darwin que desfez a certeza bíblica do aparecimento do ser humano.
O historiador Bruno Leal, da Universidade de Brasília, tem a seguinte compreensão quanto aos receios do revisionismo histórico: "Para esses setores, mais vale um falso passado conciliador que a dor latente de um passado cheio de falhas que ainda deixa marcas em nosso presente. Esses grupos entenderam que a manutenção de seus privilégios historicamente construídos depende fundamentalmente do controle da narrativa sobre o passado".
O Brasil padece de reanalisar sua História, tal discussão precisa sair dos muros acadêmicos e ser verdadeiramente debatida, democraticamente, com todos os segmentos da sociedade. Devemos extirpar da Nação que almejamos e devemos habitar o negacionismo histórico imposto.
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